sábado, 29 de setembro de 2007

O inverno no Leblon é quase glacial

"Cariocas não gostam de dias nublados". Eu, como não sou carioca, gosto, mesmo no Rio. Um dia frio no Rio significa 24 horas para a cidade sem dividi-la nem um minuto com o Oceano Atlântico. Fazer nada, tomar café tranquiiiiiiiilo, passear, passear, sem ansiedades de verão. Tentei aproveitar o domingo para descolar um ingesso para ver "A Alma Imoral" no teatro. Ingressos esgotados (nem tudo é perfeito em um dia nublado). Mas o termo sold out me gera uma vontade imensa de encontrar um lugar para mim na platéia disputada. Aciono minha irmã que tem contatos na produção, "fala que moro fora, que já li o livro, que não posso ver em outro dia". Desta vez não funcionou. Ingresso? Só semana que vem, se quiser ainda. Não levo a mal, me levo para passear no Paço, no CCBB e arredores. Depois de ver o que tinha para ver, almoço. Este acaba meio-sem-querer-sob-um-cálculo-incoscientente-exato às 18h. Estava ao lado da Pç XV. Tomei a balsa, atravessei a Baía de Guanabara rumo a Niterói e atrás de quem eu queria ver novamente...cantar.

(Dentro do parêntese) e pause na cronologia

(Recebo uma ligação de minha irmã Lis, que mora no Rio. Ela assiste ao programa Conversa Afinada da TVE, que não rola em BH. A entrevistada é Marina, e o show é o Topo Todas gravado justamente em Nikiti. Ela coloca o fone no som da tv e eu escuto a inconfundível voz incrivelmente rouca se pronunciando. Logo em seguida, cantarolando "meu amor se você for embora, sabe lá o que será de mim". Esta ligação transforma o meu humor. Muito a ver, eu com este show na cabeça, escrevendo sobre ele e um relato simultâneo transmitido para todo o Brasil, menos BH, que fica com o clássico Galo x Cruzeiro, eternamente buzinando em nossos ouvidos. Expliquei que era um especial em 4 capítulos e que rolou desde terça, estávamos na sexta e havia um resumo no sábado. Que bom que algo a fez ver o que estava rolando na TVE. E outro algo mais forte ainda a fez me ligar. Saio para encontrar amigos e comemorar o dia 29 com o nhoque de São Genaro, que traz fortuna, para mim no sentido de felicidade. Uma amiga me conta que outra amiga disse que é encantador me ouvir falar dos casos-Marina, em forma e conteúdo. Ao lado, outra logo completa que leu este blog, não comentou, mas adorou. Fortuna! Sempre me bastou estar a fim, mas com amigos é muito melhor. Quanto à Conversa Afinada original deste relato, ainda irei saboreá-la, em algum lugar do Brasil. Ou até mesmo em BH.)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Meu mundo você é quem faz

Eu estava realmente feliz com o meu anonimato, mas a partir daí não tinha mais jeito. E olha que ser reconhecido fora da sua cidade, por este ou outro motivo, não é de todo ruim. Fora de casa nos sentimos muito mais abandonados e inseguros. O que também tem seu lado bom. Assimilei rapidamente o momento de "fama". Sim, sou eu. A saída do teatro se abriu e coincidia com uma fila que ser formava para a entrada do camarim. E desde os 16 anos de idade não me via em uma destas filas. Avistei logo outro fã que eu sempre conversava pela internet. Aí eu mesmo me apresentei e começamos uma conversa que parecia de pessoas que se conheciam há anos. Eu estava naturalmente na fila, mais para falar com meus novos amigos que para pedir autógrafo ou fazer uma foto digital. Outros "amigos íntimos" se juntaram e, em alguns minutos a porta se abriu e uma voz perguntou "quem são os meninos do Orkut?". Levantei a mão com firmeza, sem nem pensar. Não tinha dúvida, eu era participante ativo da comuniaodade Marina Lima do Orkut. Até amigos que me deixavam bem à vontade na primeira vez que os via, eu tinha ali. "Marina quer ver vocês primeiro". Quem estava na frente reclamou, claro. Perguntavam se éramos parentes. A produtora fez uma piada falando que éramos muitos , tentando afastar os penetras. Nós nem tchum, entramos. Fui o terceiro. Muito tímido, muuuuuito sem graça, soltei o meu oi e ouvi de uma voz incrivelmente rouca e macia: "você eu já conheço". Por um frame passou pela minha cabeça: será que ela se lembra de mim lá da última vez que estive em uma fila no camarim de um show no Palácio das Artes em 1987 quando eu tinha 16 anos? A voz voltou a invadir as minhas conclusões. "...de uma foto no Orkut." É...a internet realmente mudou o mundo, inclusive a relação entre os mundos de um fã apaixonado com o seu ídolo extremamente atento ao mundo que o cerca.
Para registrar: quem me reconheceu na platéia foi o fã ardente Paulo Soalheiro e quem eu já conhecia melhor, via web, é o Gustavo Coquet.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Lá nos Primórdios de tudo

Meu caso com a Cantora Marina Lima é de longa data. Ela surgiu para mim nas telas do início dos anos 80. Teve um especial chamado Mulher 80 no qual apareceu em meio a outras cantoras de grande nome da música brasileira. Ainda era uma "quem é essa?" em teste para mim e para muitos. Vale lembrar que em 80 eu tinha 9 anos de idade. Uma seqüência de especiais como A Arca de Noé no qual ela cantava a música do gato, meu bicho preferido na época e muitas participações em programas de auditório me despertaram a atenção. Acho que o mundo dela já fazia charme para mim. O primeiro vinil que realmente escutei inteiro até arranhar foi o "Desta vida, desta arte" acho que de 84, apresentado pelo meu primo Nácer. Eu nem tinha, mas éramos tão amigos que dava no mesmo. Fullgas de 85 ou 86 foi o primeiro que comprei. E não parei mais. Estamos em 2007 e minha paixão pela obra e música, poesia e comportamento desta incrível artista não se interrompe. E o que antes parecia tímido em mim, contido, tem motivos de sobra para ecoar. Ou melhor: não tem motivo algum para se calar.

O Hotel Marina quando acende

A internet realmente revolucionou as nossas vidas. E transformou muitos sonhos em realidade. Escrever é um deles. E estou aqui para fazer isso, independente de quem se interesse em ler, escrevo para mim e para quem estiver a fim. Na internet descobri a comunidade Marina Lima do Orkut. Algumas vezes eu lia, escrevia algo, opinava sobre isso ou aquilo. Em um determinado momento algumas pessoas deste espaço sinalizaram que gostavam do que eu falava, do meu jeito de me colocar e pontuar. Eu adorei sentir esta aceitação. Tínhamos um gosto em comum muito forte e nada fácil e, por mais que pensem ao contrário, sempre controverso e em momento algum unânime. A carreira da Marina apontava para um caminho bacana com o show multimídia Primórdios apresentado inicialmente em novembro de 2005 no Auditório Ibirapuera em São Paulo. A imprensa, formadores de opinião e público que viram estavam chocados com o poder criativo da artista junto à sua equipe dirigida por Monique Gardenberg. Fui ver este show em setembro de 2006 com a minha irmã Lis, que mora no Rio. Isso no Canecão. Ainda era um fã comum. Vi, chorei, babei com o espetáculo, com a coerência e o bom gosto. Minha irmã também se impressionou. Saímos do show e fomos a uma festa de aniversário na Casa de Pedra, na Gávea. Eu era apenas um fã, mas algo especial estava para acontecer.

Topo Todas em Nikiti

As minhas passagens pelo Rio de Janeiro são freqüentes e, muitas vezes ou sempre, deliciosas. Mesmo com alguns horrores típicos da cidade. Vivo em Belo Horizonte, uma cidade entre as montanhas que tem um olho apontado para o passado, a mineiridade, o interior e outro voltado para a cultura, a tecnologia, o lado cosm opolita. Hoje já escrevi no meu trabalho (sou redator em uma empresa de propaganda e tenho o privilégio de exercer a escrita no meu labor) que este enigma é que nos deixa mais interessantes. Somos modernos ou jacus? As pessoas nunca sabem. Nós não sabemos. Ainda.
Mas os cariocas também são muito enigmáticos para mim. Parece que para muitos que os reparam mais de perto. Meu cunhado é carioca, típico. Adoro. Só a partir daí já não dá para generalizar nada. Confesso que há algum tempo sentia algum tipo de raiva, de preguiça ou de inveja mesmo. Encanto é o que nunca deixei de sentir pelo Rio, pelo mar, pelo seu povo. Confesso. E isso foi ficando cada vez mais real, verdadeiro e natural em mim.
Foi em um daqueles feriados que acertam a quinta, que deixam a sexta um dia impossível de trabalhar e que estava no Rio que, por uma feliz coincidência, tinha show da Marina no Tetro Municipal. De Niterói. Pegar a balsa, não saber se tem como voltar e outros nunca me meteram medo. Eu vou e depois a coisa se resolve. Sempre. E fui.
Tinha comprado um ingresso por internet numa ponta extrema da primeira fila, mas era primeira fila. Comecei a ver o show que acabava de ser nomeado "Topo Todas Tour" por um outro fã internauta chamado Alessandro (que não conheço). A proposta era ser um show mais simples, com 3 ou 4 músicos no palco para viabilizar a turnê dos Primórdios que havia se restringido às cidades "ponte-aérea", "Via Dutra', "do eixo", vocês sabem. Comecei a assistir ao show com cara de paisagem. "Já vi o bom, este não é nada". Atrás de mim havia um adolescente (18/20/22 anos é adolescente!) que cantava muito, inclusive fazendo o celular de microfone. Imediatamente me coloquei no lugar dele. Será que sou assim? Que pago este mico? Ao meu lado um casal da Melhor Idade. Ela empolgadíssima, apaixonada. Ele (quase) dormindo. Meu olhar blazé deve ter resistido até a quarta ou quinta música. E quem pagou o pato foi o velhusco! Com a amada de um lado e Ahmed (eu, tá?) do outro, o sono do bicho foi ficando cada vez mais impossível. Alugamos o ouvido dele por um longo e interminável tempo (para ele). As mínimas cadeiras do Tetro Municipal (de Niterói) ficaram ainda mais mínimas para ele. Coitado de quem vai a um show que não tem afinidade nenhuma ao lado de uma pessoa que ama o artista. Já fiz isso, não faço mais. Não me esqueço dela cantando no ouvido dele e segurando a sua mão: "Não faça assim, não faça nada por mim, não vá pensando que eu sou seu." Lindo, romântico.. para ela(e para mim, não para ele). Também não me esqueço do meu descontrole, apenas falando, melhor, berrando para a Marina na boca do palco: "VOCÊ (MARINA) ME ABRE OS SEUS BRAÇOS E A GENTE FAZ UM PAÍS!"Pronto, paguei o mico. Foda-se. Mas aí uma voz veio em direção a mim e me perguntou: "Você que é o Améd, não é?"