segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Proposta indecente para fechar 2007

"Que tal aquele brinde que faltou?"

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Calma que o tempo alimenta a alma

Calma que o tempo alimenta a alma
Corre que o tempo escorre
Tédio é quendo isso aqui tá um porre
Porre é quando o tempo passou da conta
E nem sempre tem um porquê
Porque tem muitas formas de se escrever
Mas quase ninguém quer saber
Pois ir fundo é mais difícil que boiar
Mas é só assim que aprendemos a nadar

Pensei este texto dentro de um ônibus na Bolívia, vendo o lindo, enorme e incrivelmente azul Lago Titicaca (aquele mais-alto-e-maior-alguma-coisa-do-mundo). Um destes momentos-nada, olhando de uma janela, sem ter que dirigir, sem pensar em tarefas, onde estamos de frente para algo novo, monocromático e que encanta a nossa alma. Engraçado que este suspiro se transformou em algo produtivo, o texto de fim de ano de onde exerço meu labor. Ironia. Por estas e outras janelas, vi paisagens que encantaram meus olhos em 2007. Espero ter inspiração para fazer esta viagem aqui.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

2007, dois mil e tanto

Em uma noite de muitos eventos, após cumprir compromissos como a Festa da Firma e da Família, arrastei meu sobrinho de 26 anos, quase 2m de altura e atual residente de Moçambique, Luís Paulo, para um aniversário de uma amiga que acontecia em um destes lugares da cidade metido a chique e descolado.

Logo ele sente o clima favorável, pessoas aparentemente bacanas, alegres, amigáveis, alcoolizadas na medida para a ocasião e diz:

"Isso aqui cheira a vida!"

Lá mais para o fim da festa, em um momento íntimo, minha amiga e aniversariante Lisa me perguntou:

"Charmed, resuma 2007 em uma palavra.

Eu respondi: "2008".

A resposta surpreendeu a todos, inclusive a mim, e agora tento explicá-la.


Em 2007:

Fiz minha primeira cirurgia e quase morri de medo de entregar a minha vida a pessoas que nunca tinha visto.
Consegui ficar em casa quieto, sem achar ruim. Mas só por causa da cirurgia.

Saí na Sapucaí e quase morri de calor e cansaço: brochei na hora H. E daí?
As preliminares foram sensacionais.

Cuidei de um serzinho que amava até o seu fim.
Chorei muito, fiquei de luto.
E aquela cena da morte nunca mais sairá da minha cabeça.
Muito menos as inúmeras de vida.

Vi minha mãe insistindo em não querer ver.
Vi o meu amor insistindo em não ir.

O trabalho morre em mim.
Atravesso a América do Sul on the road.
A América do Sul me atravessa mais uma vez.
E o trabalho ressuscita em mim.

Tenho um ataque classe média, tiro meu dinheirinho debaixo do colchão e compro um monte de tijolos que ainda não sei quais castelos construir com eles.

No meio disso tudo meu ídolo me reconhece, manda beijos em entrevistas,
canta passando a mão no meu cabelo
Me chama para dançar no palco
Me lança olhares de cumplicidade, quer saber um pouco de mim
Senta ao meu lado e me faz confissões à meia-voz
Me confunde, depois me acerta.


E voltando à festa, minha amiga me pergunta:

“Charmed, resuma 2008 em uma palavra.”

Eu respondi: "2007".

Acho que em poucas palavras, respondi isso porque:

SÓ HÁ VIDA SE NELA ESTÁ INCLUÍDA A MORTE.


E neste ano o pacote veio completo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

E se não vir

De repente uma dor no olho
Acho que vi demais
Vejo as telas, vejo filme
Vejo letras no papel
Nas placas, nos anúncios
Vejo longe, vejo perto
Vejo dentro
Vejo o que quero
E o que não quero
Vejo o bonito sem lentes
Uso filtro para não ver o feio
Poso para ser visto
Peço para não ser visto
Foco e desfoco
Vejo e guardo
Uma hora uso
Outra descarto
Vejo o invisível
E digo o indizível
Desdigo quando quero
Então diz aí:

E se não vir?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Herança

Este ano meu presente de Natal para os meus pais foi o ingresso do Alegria do Cirque du Soleil. Sinceramente acho que não encontraria opções melhores em corredores de shoppings e seus arrastões classe média. Foi muito bom ver os olhinhos brilhantes dos meus pais, principalmente quando estes já viram e viveram tanto em tantos anos. Os meus brilharam junto. E minha alma cantou.


Aí me lembrei de um texto que escevi em 2001 e resolvi postá-lo aqui.

Herdei do meu pai:

O silêncio, a concentração, um tesão maluco pela ética, o medo de arriscar, a paixão pelas palavras, a vontade de ler para os outros o que acho mais bacana, o gosto pelo estudo, a paixão pelo esporte, o nariz grande, o amor à terra, a necessidade de encher o saco de alguém, o mau humor, a impaciência para compras, os cabelos lisos, a crítica.


Herdei da minha mãe:

O bom humor e as gargalhadas incontroláveis, o hábito de tapar o sol com a peneira, a mania de achar que está tudo bem, a necessidade de freqüentar shoppings quase que diariamente, o amor aos grandes centros, a tara pela beleza hollywoodiana, o pânico de dizer não, o medo das câmeras, os pés e as mãos enormes, a vaidade, a altura.


Herdei dos dois:

A transparência, um tesão maluco, colocar a família acima de tudo, ficar com a mesma pessoa por longos anos, a religiosidade, parte da bondade.

Ahmed da mãe, Calais do pai, Hamdan da mãe, Resende do pai.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

São tantos produtos

Eu disse: "Marina, já desistiu de se mudar para São Paulo, néam?"

Ela respondeu ao pé-do-meu-ouvido: Ai, Ahmed. São tantos produtos, tantas indagações...Um dia ainda eu vou te explicar tudo.


E ela falava em cigarros, aspirinas...

Eu falava de incensos, fivelas, restos de perfumes no frasco.

Tudo fora de ordem, invertido, o texto sem decorar.


Este fragmento de diálogo simplesmente grudou na minha memória.

Agora tudo que me perguntam:

O que você vai fazer hoje à noite?

Vai entregar aquele job quando?

Vai passar o réveillon onde?


Tem uma única resposta:


"São tantos produtos, tantas indagações...
E estes labirintos no meu coração."


Nem preciso aguardar um dia: já explicou tudo.


Segue abaixo a referência:

Estou Assim
Composição: Marina Lima/Fernanda Young

Estou assim
Como o mar que não chega na areia
Estou assim
Com esse sangue estancado na veia
Até você me ligar

Estou assim
Como um mês que não passa do meio
Tão assim
Esperando esse amor que já veio
Até você se tocar

Fivelas, cremes, incensos
São tantos produtos
Tantas preocupações
E esses labirintos do meu coração

Mas eu sei que quero, amor
E o que você disser será aceito

Estou assim
Um talento por pouco perdido
Quase assim
Como um som que não quer ser ouvido
Até você me amar

Estou assim
Com esse cisco caído no olho
Tão assim
Uma lata vazia de molho
Até você me cansar

Cigarros, aspirinas, restos de perfume no frasco
Tantas saudades
Tantas indagações
Nesses labirintos do meu coração

Mas eu sei que quero amor
E o que você disser será aceito

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A pessoa refletida no espelho dos seus olhos

No show fechado em BH, encontrei-me por acaso com o meu primo Nácer (aquele que lá no início me aplicou). Ele já havia me pedido para entregar uma poesia que fez para a Marina. Eu ainda não havia encontrado a hora, até porque a melhor pessoa para fazer isso era ele mesmo. Mas neste show, ele estava com o poema para a Marina em uma mão e, na outra, um para mim. Entregou ambos...em mãos. Olha isso:

Ahmed

"Onde nada se pode saber de verdade, a mentira é permitida."
Nietzsche


Que todos aconteçam!
Gosto de gostar de quem me cerca
Extravio objeções cancelas quinquilharias
Antecipo estigmas e enguiço os óbvios
Entendo a engrenagem
Vista daqui é suportável
Lido com meus ais sem aflição
Percorro corpos à minha procura
Sexo é subjetivo
Arte é liberdade conquistada
Deus reconhece quem das regras esquece
Não quero ser continuação
Aprendo com o meu reflexo, a minha expressão
Quero ser herdeiro do agora
Amplio o portal do tempo
Tudo se mistura e continua
Mais aberto solto imprevisível
Salto de um trapézio
E mergulho no nada
Sorvo no escuro a solidão do mundo
Ejaculo-me ao vento espraiado
Fecundo o dia
Coreografo o infinito
Sorrio pras estrelas
E inauguro a próxima estação


Nácer Hamdan Harmuche




E aí, viu algo de mim?