quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Assassinando a morte

"Acostuma-te à idéia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo material residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer apresentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria esfera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado. Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada,nem para os vivos nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entando, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida."

Mais um excerto da Carta sobre a Felicidade de Epicuro. Matou!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sabedoria moderna

"Sobre os desejos, classificados em naturais (entre eles, os necessários e os apenas naturais) e inúteis, a lição é: aprender a recusar prazeres que venham a causar sofrimento e, em determinadas circunstâncias, abraçar o infortúnio se dele advier, mesmo que a longo prazo, um prazer recompensador. O conhecimento dos desejos é fundamental para a escolha adequada do que trará saúde ao corpo e serenidade ao espírito, afastando assim a dor e o medo. Dessa maneira, o homem se satisfaria e não iria em busca do que lhe faltasse, já que a necessidade do prazer é sentida quando se sofre a ausência dele; portanto quando não se sofre sua ausência, não se sente sua necessidade."

Excerto da Carta Sobre a Felicidade, Epicuro (341 a.C - 270 a.C)

A palavra excerto é sugestão da Zahara (ah, esses portugueses!)
O ensaio é de Oscar Cirino.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A pessoa refletida no espelho dos seus olhos (por onde foi que entrou?)

Tem um caso com a Marina não contado aqui que ficou lá naquele 24 de agosto, pós Topo Todas Tour em BH. Estava eu sentando ma mesa de um bar no Santo Antônio, com meus amigos mais próximos e uma moça me faz a seguinte pergunta: "você estava no show da Marina, não estava?" Estava! (até dancei com ela, ela me agradeceu pelo nome e tudo). "Ela acabou de passar aqui e foi praquele bar ali". Eu me levantei imediatamente, passei o rodo na chave, no celular e disse: "acertem a minha parte e depois me encontrem lá". Com o porteiro do bar: Marina taí? "Que Marina?" Qual Marina você acha? Elali? Marina Marina, Taí?"Está". Se não tiver,quero o dinheiro da entrada de volta. Entrei e dei uma volta, na última mesa que bati o olho, avistei a mulher. Oiii, chega aí. Olha, eu tinha uma vida para conversar. Sabe aquela conversa pra tirar o atraso? O bar teria que abrir e fechar um ano para que esta vire adianto. Fala isso, fala aquilo, pessoas em volta, produção e tal. Senta aí. Não tem cadeira. Tem sim! Tem que ter. Não vai ser agora que uma cadeira vai me impedir de ser feliz. Apareceu. Sentei. falei de tudo que queria. Falei do show, de viagens, de bobagem, de música, de outros cantores e estilos. Olha que delícia! Falei até da minha mãe, melhor ainda. Ela também falava e parece que se divertia. Bom, também havia sinais para parar. A tal rolha. Meus amigos chegaram, mesa cheia, bar cheio. Vou dar um a volta. No telão do bar a própria cantando. Na mesa pessoas pedindo fotos e afins. Hora de brindar a feliz coincidência com pessoas muito próximas. Cantar e bailar ao som da moça cheia de uma graça exibida logo ali, ao vivo. Ah, e não pedi o dinheiro de volta, ok?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

4:25 - sobraram os copos e eu



Muito de mim nesta imagem.

Até fiz um texto para ela:

Música, carro, dinheiro só pro gasto, licença para dirigir, licença para entrar, para sair, licença para beber, licença para arrolhar, licença para amar, figa, Figo, fica mais, foda, fuga, fikete, fardo, farda, féxion, centavo, ilhós, plástico, papel, menu, galo-de-time, galo-de-galinha, pata, falta, um pedaço, cordão, colar, prata, moeda, migalha, champanhe, Champagne, acesso, livre, topo, todas, nem sempre: saco a rolha.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Ao vivo de Tiradentes

Cheguei à festa de abertura com o atraso necessário de sempre e já havia uma pessoa passando mal na mesa onde estavam as pessoas que mais conhecia no ambiente.

-Pressão baixa, diziam.

O sentimento coletivo era:

-Deve ter bebido muito.

Mas quando qualquer pessoa se aproximava, via que era uma dessas modeletes branquelas e maqérrimas-outdoores ambulantes da bulimia.

E o murmúrio mudava imediatamente:

-Também:não come nada!

E ela quase desmaidada balbuciava:

-Eu comi, gente. Juro que comi.

Sinal dos tempos: no passado o excesso, agora a falta.

(E qualquer relação com fatos reais é mera coincidência.)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Senhores das letras

O poeta multimídia Arnaldo Antunes escolhe seus letristas preferidos da música brasileira:

Vinícius de Moraes

"Por aquelas letras de bossa nova que todo mundo conhece e admira e que têm densidade poética, sentimento lírico e, ao mesmo tempo, conhecimento grande dessa coisa da canção, da coisa adequada à melodia."


Lupicínio Rodrigues

"Por suas letras passionais, muito intensas e, ao mesmo tempo, muito bem trabalhadas, com versos antológicos."

Caetano Veloso

"É evidente a qualidade dos textos da canções do Caetano".

Wally Salomão e Antonio Cícero

"São dois poetas que também trabalharam muito com a canção e que têm músicas admiráveis e memoráveis para mim".


Para mim também. Aliás, ando concordando muito com o que Arnaldo Antunes diz e põe em prática. Detesto listas, sempre as considero parciais e injustas, mas esta colou em mim.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Para um amor no Recife

Bom, hora de me juntar à multidão. Havia uma orquestra de frevo no palco. As pessoas cantavam e dançavam músicas regionais e estavam gostando bem. Eu pensei: isso vai dar merda. O som da Marina é o oposto deste (nem sempre - "Eu adoro ritmos nordestinos"). Curti os meus minutos de não-fama e a delícia de ser mais um na multidão : olhei para o céu, para a lua, para o mar, vi um barco cheio de luzes cruzando a costa, fiz fotos. Quando passava pela entrada do camarim para dar a volta e atingir a posição para assistir ao show, ouço uma pergunta: qual é seu nome? Eu sou a Mileine. Ela eu já conhecia pela internet, já havia combinado pelo telefone de nos encontrar. Pronto, já tenho uma nova turma (e que não está trabalhando). "Ahmed, vamos ficar bem na frente". Empurra aqui, ali e conseguimos uma primeira fila básica (em pé, claro). Chico Science no talo, pernambucanos cantando e louvando o conterrâneo. Ah, meu deus, não vai dar certo. Entra uma aprentadora e diz. Gente, vamos ao que interessa. É a vez de quem a gente está esperando. É ela mesmo: a ma-ra-vi-lho-sa (em nordestino) Marina Lima. Ó,a minha segurança agora cresceu demais! Ela entra linda, surpreendente, com uma roupa muito sensual, branco total e com um sutiã aparecendo radiante. Assustei porque tinha acabado de vê-la sem maquiagem, com outra roupa, cabelo e tal. Então era uma surpresa para mim também. O astral estava muito legal, de todo mundo. Muitas músicas conhecidas, as mais novas eram celebradas com muita dança: pernambucano é incrível com arte, têm uma sensibilidade que o mangue beat pode explicar e ouvidos acostumados com muitos ritmos. A onda eletrônica já assimilada também deixa as pessoas muito bem diante do poder do novo som da Marina. Mesmo as músicas antigas foram reinventadas e trazidas para um 2008 que acabara de nascer. Minhas primeiras lágrimas caíram no coro de Nosso Estranho Amor e depois em Me chama. Ver a multidão cantando uma música tão densa como Virgem in-tei-ra dá até vontade de acreditar que este país tem chance. O Hotel Marina quando acende não é por nós dois embalado por "um coro de 80 mil pessoas unidas pela fortaleza de uma grande mulher". O show veio completo, com direito a todas as performances, inclusive o desmaio. Não pouparam nada, muito pelo contrário, foram intensos. O público superentendeu e delirou. Para comemorar, Marina pede champagne (a mesma que eu tinha brindado à meia-noite). Ela abre, a rolha sobrevoa a multidão e vai parar nas mãos de uma pessoa que delirou demais com toda esta história: eu mesmo. Inacreditável. Mais uma prova, mais uma sorte, mais um mimo, mais algo para guardar, mais uma história para contar. E com a multidão gritando em coro: Marina, eu te amo o meu coração explodia de felicidade bem no início do ano que chegava.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ponte

Só me esqueci de falar e acho que ela ainda não sabia que a minha alma tem credencial para transitar por todos os lugares: regiões, hemisférios, zonas: norte e sul. Pode vir comigo que estará segura.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Não pinte este rosto que eu gosto

Marina, vem ver a lua. Está linda!

Subimos uma rampinha que dava acesso ao palco.

"Não, aqui nåo dá mais para mim".

Lembrei que nem todo lugar é seguro para uma estrela. Não é como a gente, que pode andar de um lado para outro e passar, normalmente, ileso.

Dê só mais um passo que você vai ver como a lua está linda, nascendo no horizonte sob o mar do Recife.

Mar, lua crescente sob o horizonte, fogos, aquele cometa no braço direito agora acompanhado de grandes estrelas, uma taça de espumante na canhota levantada para o céu.

Posso fazer uma foto de vocês?

Qual é o seu nome?

Paparazzi...Genival Paparazzi, Diário de Pernambuco.

Fez-se o clique.

"Agora tenho que me maquiar".

Pra que se pintar, Marina morena?

Você já está como a lua: linda!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Mais um brinde que não faltou

Estava combinado de chegar ao palco às 23 horas. Quando falei que iria a Recife justo no réveillon, logo fui convidado para brindar à meia-noite com a estrela da festa. O que já estava bom, passou a ser irrecusável. Melhor, inadiável. Já imaginei que estas coincidências todas de uma promoção da Tam, no réveillon, com show de Marina, em um recesso profissional e este convite só podem acontecer uma vez na vida. Uma combinação quase lotérica. Atrasei 20 minutos porque atravessar a multidão não estava fácil: muita gente para comemorar a chegada de 2008 (e ver minha musa, claro). Mas a equipe nem estava lá. Foi bom para saber que, se eu tive dificuldade para chegar ali, imagina Marina Lima com banda e toda uma trupe? Teve que rolar polícia, só os seguranças não dava. Foi bom vê-la chegar escoltada, entre a multidão, cabeça baixa, séria e apressada, estrelíssima, algo meio Madonna. Adorei. Adorei ser convidado dela. Todas as vezes que ela já havia passado, por acaso, perto de mim e eu fingia não me importar se calaram naquele momento. No passado eu tinha que ficar mudo e engolir minha emocão para não passar de fã babão, de jeca, agora ganhei voz. Daí a poucos minutos ganhei credencial, pulseira e o escambal. Um crachá com a foto dela escrito MARINA LIMA - TOPO TODAS TOUR - ACESSO LIVRE caiu muito bem sobre a indumentária branco total, agora radiante. Poucos minutos para o brinde, a nossa festinha particular sendo montada no camarim. Eu ouvia dos produtores: "Marina quer brindar com vocé à meia-noite." Eu sei. Fomos todos: músicos, equipe, familia e eu para brindar. "O champagne é bom!" Eu sei. Tem que ser. Veuve Clicquot. Luxo para todos. Sabe quando fico sem o que fazer e uno as mãos, esfrego uma na outra, puxo uma pelinha, aquele tique que veio lá dos primórdios? Estava neste pose e Marina simplesmente abraça as minhas duas mãos e as balança em um ato de puro carinho e intimidade. Ela olha para mim, sorri e diz: "O seu blog é muito engraçado". Eu sei, mas sem querer, você corporalmente acabou de me dizer que com um vício, um algo-que-as-pessoas-sempre-me-disseram-que-não-pode dá para fazer um país (ou um carinho-país). Lembro de ter falado assim: Marina, 2007 foi muito bom pra gente, mas 2008 vai ser melhor ainda. E lá fora os fogos explodiram, ela com a sua canhota para cima e a taça de Veuve Clicquot na mão olhando para o céu e meditando. E eu continuava a olhar para ela, com outros olhos, sem armadilhas.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Passagem

Estava na praia da Boa Viagem, havia pouco tempo que tinha chegado ao Recife. De onde estava avistei o palco que aconteceria o show. Escutei alguns acordes familiares. Corri para lá. Passagem de som? Não acredito! Lá algumas pessoas se reuniam para ver a Marina passar as músicas. Um clima delicioso: solzinho de fim de tarde, o mar turquezado lindo e as pessoas com um astral ótimo. Ainda mais por ser o último dia do ano, poder fechar com chave de ouro. Uma cerva gelada, por favor. Quanto? R$3,00. Recebo uma garrafona, achei que fosse a latinha. Mas agarrei a garrafa e fui para a beira do palco. Marina me vê e dá um tchau gostoso. Eu horrível no estilo praia: sunga, camiseta regata, boné, óculos, tralhas e ainda uma garrafa na mão. Vergonha...Mas as músicas foram rolando, os goles amaciando a garganta, a cabeça flutuando, o som incrível envolvendo minha cabeça e a das pessoas que ali estavam. Marina alegre, com um boné "Me chama" (não me pergunte o que é isso, acabei de inventar), firme no comando da trupe. Uma delícia ver esta passagem novamente, quem tiver esta chance não deve hesitar. Mesmo ouvindo gritos de "eu te amo" e o delírio coletivo de quem estava ali, ela disse ter medo da gente não voltar à noite: tolinha. Acabou, fui andando pela areia, já era noite (lá não tem horário de verão e escurece rápido). Resolvi entrar no mar, águas calientes, sentidos intensos, medos longe. Soltei os tubarões de 2007 todos ali. E que eles façam Boa Viagem, não me pergunte para onde.