sexta-feira, 27 de junho de 2008

O tal ato-falho

Quando fui falar da escolha das música do Player do My Space, citei uma frase que acho genial.
Só que pessoas me disseram que digitei errado. Eu relutei e disse não, não pode, não me enganaria com algo que tanto admiro.

Fui conferir e estava lá....

"Não deixe as roupas que eu RASGUEI
te encobrirem de razão."

Se tranformou, "na minha mão" ( o título da canção de Marina Lima e Alvim L.), em:


Não deixe as roupas que eu LAVEI
te encobrirem de razão."



...o tal ato-falho.


Será que o sabão em pó está acabando e eu tenho que passar no supermercado para comprar?

Será que ando lavando demais a roupa suja e não só em casa?

Será que preciso rasgar mais algumas roupas que estão entulhadas no armário e que cabem bem na vida de outras pessoas e na minha não?

Será que ando costurando rotos, apertando bocas, ajustando formatos para continuar na moda ou "to fit in the world"?

Será que é hora de rasgar e trocar tudo?

Passou do tempo do "lavou, tá novo"?

Aproveito que vou mudar de casa para me mudar?

Sei que radicalmente só como personagem.

A realidade vem aos poucos, sem perder a essência.

Vem num susto, sem querer.

Vem quando a consciência falha

E dá lugar a um

Ato-falho.

Que, no caso, não daria para rasgar

Mas era só deletar, dar uma arrumadinha

Deixar como as roupas velhas lá

Mas achei melhor assumir

E grifar.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Do(s) Pai(s)

O moço de 27 anos começa a sentir que está ficando com as formas arredondadas e diz:

"com tanta coisa boa para herdar do meu pai, eu tinha que puxar logo isso?"

Outro já perto dos 40 morre de medo de herdar a lustrosa careca do velho

e toma religiosamente um miligrama de finasterida todos os dias para reduzir a quantidade de hormômios masculinos no organismo.

A adolescente quer mudar muita coisa na vida, quer ser diferente dos pais, vencer de fato, mas diz, não tão explicitamente como quem a ensinou que:

não gosta de negros, de feios, de velhos, de gays, de japoneses, dos que vivem nos subúrbios ou de tudo que lhe parece estranho ou diferente.

Deitado no divã, escuto que "do pai, herdamos o pior".

E pior ainda: quem falou foi um moço chamado Jacques Lacan.

Deve ser por isso que mudar algo e ser um pouco melhor

Dá tanto trabalho.

E, para muitos, é melhor nem tentar.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

www.myspace.com/marinalima

Esta semana fui convidado a escolher 4 músicas para tocar no player do My Space da Marina.

Torrei minha cabeça de tanto pensar como fazer isso de uma maneira que agrade os fanáticos do Orkut, meus amigos (uma parcela ama, outra amou, outra ignora) e, principalmente, a mim mesmo. Afinal este é o critério mais exigente e, com este objetivo cumprido, o resto pode até nem interessar.

Não queria escolher músicas antigas, gosto do novo, do agora.

Não queria escolher músicas que já estiveram lá no player muitas vezes.

Não queria escolher hits: não teriam função ali.

Aí concluí:

Up For Comin´Down, apesar de ser de 93, eu mesmo conheci há pouco mais de um ano.

É da versão internacional do cd "O Chamado", no caso chamado de "A Tug on the Line"

Esta música é a versão de "Meus irmãos", uma das mais lindas da carreira dela que diz no refrão:

"Os homens podem muito pouco.
O tempo sempre sabe mais como agir"

Pronto. Escolha feita. Topo da lista: será a mais ouvida no player que já se inicia com a mesma.



"Por isso eu corro demais" do Roberto e Erasmo.
Versão que só escutei em rádio. Por incrível que pareça, não tenho esta música.
E piro na arranjo, na estranheza, no jeito que a coisa foi criada.
Me disseram que é de um cd com vários cantando Roberto.
Eu mesmo queria ouvir e pus pra tocar.
Pra mim!
Depois vi que vário fanzões nem conheciam.
Funcionou demais.


"Na minha mão" é da turma mais recente e fase mais criativa da Marina.
E
"se vc pensa que eu não sou
aquilo tudo que sonhou,
Pois saiba que dói mais em mim
Saber vc tão tolo assim"

E mais:

"Coração, coragem
Pra qualquer viagem
Pra qualquer sermão.

NÃO DEIXE AS ROUPAS QUE EU LAVEI
TE ENCOBRIREM DE RAZÃO."

Isso é genial, cara!

Tá lá: na minha mão:

Primeiro o meu talento nato para o vôlei
Agora meu trabalho é com as mãos
Escrevo e teclo
Minha empresa usa mãos como símbolo
Meu mundo está "Na minha mão"

Paris-Dakar
"Luzes sobre o Rio de Janeiro
Ponte aérea
Nuvens sobre o céu de São Paulo
Homem-matéria."

Adoro isso: pontes, lugares, aqui, lá, Paris, Dá cá!!!

E me lembra a Má louca no palco, sobre luzes piscantes, se jogando pro mundo.

Momento bom de lembrar e uma porrada de música.

"Aí garota, eu gosto assim!"


Faltou muita coisa que amo, claro.

Mas é como após uma viagem quando uma pessoa te pergunta se vc foi a tal lugar que vc não foi.

Aí eu respondo:

Taí: bom motivo para voltar.


Quero sempre voltar a este lugar que sempre terá coisas inéditas para ver, mesmo sendo um freqüentador assíduo.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Li e gostei

“A culpa não é do outro, nós criamos nossa realidade. O outro é o espelho no qual jogamos nossas expectativas.”

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Vou

Mãe,


Estou indo.

Vou me afastar um pouco de ti.

Vou morar na capital.

Vou deixar a barra da sua saia.

E enfrentar outras.


Não vou ter sua superproteção.

Você não vai fazer meu prato no almoço.

Você não vai defender o pedaço do frango que eu gosto.

Nem colocar meus irmãos que me bateram de castigo.

Não vou andar na cidade agarrado a você.

Fazer os seus programas.

Suas compras.

Nem vou ganhar o picolé que eu mais gosto por causa disso.


Mãe, eu vou.

Mas eu vou voltar sempre.

Sempre aparecer por aqui.

Você vai lá também.


E aí vou te passar meus longos relatórios.

Minhas notas de escola.

Minhas vitórias no vôlei.

Tentar falar de alguma derrota,

Alguma falha

Que você não vai aceitar

E mudar de assunto

E não enxergar

E continuar me achando perfeito

Caçula

Me protegendo mais e mais

Achando que eu não dou trabalho, nunca

Nem quando eu apronto

Quando sumo

Quando não dou notícias

Quando trago meus cigarros

E com a fumaça indico que há fogo


É tanto tempo junto

Tanta coisa dividida

Uma grande simbiose

E mesmo assim a gente sabe

Que há a hora dela ser desfeita

Qua há a sua hora sem mim

E a minha sem você


Sabemos que é difícil

Mas a gente consegue


Você me ensinou muito

E agora é a hora de eu ir atrás do meu mundo

Para trazer um tanto de coisas novas para te contar


Vou lá mãe

Está na hora

O ônibus vai passar na cidade

Não tem ninguém de carro para me levar

Caminhe comigo até o mata-burro

A gente vai olhar para as árvores

E querer abraçá-las

Vai gostar de sentir o cheiro da nossa terra

Do lugar em que construímos muito juntos

Um mundo

Vamos dar um grande abraço

Um beijo

Uma bênção

E você vai me soltar no mundo



Já tenho idade:

12 anos

Quase 13

E quem sabe eu não me transformo

Num grande homem?



Parabéns para a minha mãe Léia, que hoje faz 80 anos e que não vou vê-la.
Ela fez uma coisa que eu adoro fazer também:
Fugiu, vazou, foi passear.

Beijo, mãe.
Penso em você hoje o dia todo.
A gente está juntinho.

Do seu,

Medinho

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Morte do "Credelevê"

Meu sobrinho Luís Paulo, de 27 anos, morador de Maputo, Moçambique, marketeiro não só na profissão escreveu este texto e enviou para o grupo de e-mails da minha família. Eu gostei demais e resolvi postar aqui. Ele escreve o blog que está aí ao lado, sobre sua experiência na África. É o http://txunabeibe.blogspot.com

O texto:

Gente, já pensaram que, com as novas regras ortográficas do português o crê-dê-lê-vê simplesmente morreu? Quantos neurônios já queimamos, com caneta na mao, com o "v" e o "e" já no papel, repetindo na nossa cabeça essa boa dica, para completar com sucesso o "êm", e concluir com um sorrisinho malandro de canto de boca agradecendo a pessoa que te passou esse infalível truque. Agora já nao. Acabou-se!

E o péla-saco? Virou um pelassaco? O guarda-roupa é um guardarroupa? E se eu for ao Brasil já nao pegarei um vôo, mas sim um voo! Que língua é esta, meu deus? E o pára-raios? Já virou para-raios ou pararraios?! Agora sim, mae, aquela pergunta que fiz aos 6 anos de idade faz sentido! É para os raios ou contra os raios? Responda-me bem CPLP. Hein?

Daqui a pouco Tio Ache já vai começar a fazer outdoors pela cidade escrevendo que este ou aquele hipermercado é superbarato! O jornal vai dar manchete que o candidato francês à presidência é um antissemita e o americano tem um passado heroico!

A minha frustraçao vem por conta das mudanças desde que saímos da escolinha - que é nossa base cultural, naturalmente. Primeiro é o sistema solar, que deixa de ter nove planetas para ter somente 8. E as nossas piadinhas de criança, como ficam? "Vou te mandar lá pra Plutao", "aah! Fala que eu to em PLutao!!". Agora o sinonimo de longe e isolado qual vai ser? Aquele oitavo planeta cujo nome nem me lembro? Ou nos contentaremos com a Sibéria?

Claro que fico contente com o fato (fato! Nao fa"c"to, Sr. Tuga) de as novas regras trazerem facilidades para a comunicaçao interpessoal lusobrasileira (¿¿¿Cadê o hífen???) e com a reduçao dos problemas que terei com a escrita aqui em Moçambique, relaxando meu policiamento quanto às "acçoes da directoria nos projectos de 2008".

No entanto, ainda me incomoda muito ter um grupo de pessoas dizendo que o que a MINHA MAE me ensinou de repente virou balela, passado, museu, português arcaico! Mae, continuamos juntos. Vou repetir o seu crê-dê-lê-vê até nossos últimos dias. Essa e outras tantas regras passadas a base de repetiçoes infinitas e beliscoes contundentes formam o elo que nos manterá sempre unidos. Deixa a CPLP pra lá!

Beijos a todos.

PS: O til continua firme e forte na Lingua Portuguesa, só nao existe no meu teclado, este, espanhol...

terça-feira, 3 de junho de 2008

"Soul carioca"

O dia prometia chuva
O céu em um tom de cinza só
Em frente ao prédio da minha irmã, onde me hospedava
A tradicional feira das manhãs de sábado
Desci para ver o movimento
Era o algo a fazer
Coloquei o casaco que estava na mala
E quase nunca é útil na cidade do rio de Janeiro
Pelo contrário: sempre é motivo de chacota
De quem o vê sobre ou dentro da bagagem
Devido ao contumaz calor que se faz na cidade
3 cores: uma listra verde
Outra vinho
Sobre branco
Uma pessoa com a camisa do Flamengo me olha de cima abaixo
E outro rapaz me pergunta:
Onde você consegui este casaco
É bonito mermo, nunca tinha visto assim
O vendedor da banca de melancia me grita
"Vai levar uma melancia fresquinha hoje, Tricolor?"

Eu que nunca nem esbarrei no tipo que nasceu ou vive na cidade
Tinha acabado de experimentar a melhor vestimenta
Para externar uma parte da minha alma que chamo de carioca
Ou para ser mais específico, fluminense.

Na minha terra aquele é apenas um casaco de 3 cores:
uma listra verde
Outra vinho
Sobre branco