quarta-feira, 30 de julho de 2008

Candidato a perfeito

Se há sinal de eleição, ele aparece

O melhor algo será escolhido

O mais votado, mais in, mais moderno, mais bonito, mais honesto, mais humilde

Mais "altamente qualificado"

(amo esta expressão onipresente em fôlderes!)

Agrega valor a qualquer situação

É sempre citado

Aparece em todas as discussões

Adora o palco

Candidato a perfeito dá palestras em todas as mesas

Das de bar às de almoços familiares no domingo

candidato a perfeito tem muito voto

Arrasa nos concursos de melhor alguma coisa

Está sempre ganhando, ganhando

E vai ganhar mais

Porque manter-se motivado e querer mais são características inerentes

Caso uma derrota (que horror!Nem cite esta palavra) venha, ele sofre

Até mais que um humano

Mas uma derrota nada é mais que uma motivação para a uma nova vitória

Perfeito!

Vou votar nele

Ter um ídolo, um líder assim tão poderoso, correto, ponderado: the best!

Ai, que delícia!

Quero deixá-lo cada vez mais lá: no alto







Porque aqui na terra, a festa tá rolando solta

E eu nem tenho hora para ir pra casa, ok?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

C.A.M.

Revirei muitas coisas.

Primeiro a busca por documentos.

Saber se estava tudo certo, se os pés estavam no chão.

Se poderia fincar o pé na montanha

Para sair voando num balão.

Meu passaporte para o mundo estava vencido.

E era hora de renová-lo.

Engraçado precisar de documentos tão terra para se chegar à lua.

Certificado de Alistamento Militar?

Por onde andas?

Para que você serve, filho?

E espero que esta seja a sua úlitma via da minha vida.

Com as minhas intenções de ir tão longe,

Mais e mais pedidos de documentos foram se acumulando em minha caixa de e-mail.

Me pediram tudo, inclusive o quanto eu tinha na conta do banco.

Isso, para mim, era falta de educação.

Minhas raízes dizem isso.

E eles perguntam quanto eu ganho por mês sem o menor pudor.

Foi aí que comecei a revirar tudo.

Vi fotos e achei que eu realmente era muito magro.

Vi cartas e cartões.

Vi bilhetes.

Lembranças de vôos pelo mundo

às vezes interior

às vezes o oposto.

Vi coisas engraçadas

Coisas sérias

Notas de redação no colégio

Tive a coragem de ler dois textos.

Será qual nota este redator agora daria para aquele aprendiz?

Vi medalhas: uma vida no esporte deixada lá atrás.

Ah, que bom que teve.

Um amontoado de medalhas:

ouro, prata ou bronze?

Só me lembro de uma medalha de plástico nas minhas mãos.

E uma sobrinha a perguntar: o que é isso?

Eu sabia, mas nem respondi.

Só eu precisava saber.

Medalha de plástico...ai como foram boas.

Nunca gostei de guardá-las assim: fisicamente.

Sei a dor e a delícia de cada uma como se fosse agora.

Não encontrei meu Certificado de Alistamento Militar.

Estava em busca de outro algo.

Ele não é nada na minha vida

Talvez ele não tenha gostado de estar entre aquele amontoado de papéis

E foi viver em outro lugar onde não era peixe-fora-d´água.

Eram as marcas do não militar que estavam ali.

Do quase insubordinável.

Do estudante de nota boa interessado só no que gosta.

Do jogador que não entendia a parte física

Mas que entendia o jogo nas horas mais fatais.

Do amante, amado, apaixonado, com seus ídolos posando para a Playboy.

Eu estava ainda ali, guardado.

Havia me mudado.

Mas nada

Foi esquecido.

Só o Certificado de Alistamento Militar.

domingo, 13 de julho de 2008

Dividindo as jóias

Ouvi em uma tarde de sábado que devemos dividir as nossas jóias com os outros. Ouvindo-me falar isso, Cláudia logo garimpou um livro guardado em suas memórias e que poderia elucidar o raciocínio. Foi aí que ela me entregou esta pérola. Acho que funcionou como uma pedra rara que capta a luz e a faz irradiar iluminando todos os cantos.


"Usar um brinco na orelha diz ao mundo que você gosta de ouvir o som de sua própria voz. Você quer ouvi-la primeiro, antes de qualquer outra. Botar um brinco é uma forma de narcisismo sedutor.
As pessoas são atraídas imeditamanete pelo narcisismo; é por isso que elas adoram crianças pequenas. O que todos nós desejamos é o amor sem obstáculos da criança, ou qualquer animalzinho, por si próprio. Katharine Hepburn fez uma carreira a partir do narcisismo sedutor, que consiste em dar, engenhosamente, a impressão de que você não liga a mínima para como as outras pessoas a vêem, o que importa é como você vê (ou presta atenção) a si própria. Tocando o brinco, naquela pose de auto-absorção, ela ilustra para que servem os brincos.
Orelhas pequenas são mais graciosas que as grandes e são sinais, achava Nietzsche, de mais agucada distinção. Orelhas grandes ouvem tudo. Eventualmente, ficam surdas para os sons mais sutis pelo rugido de todo o barulho do mundo.
A vibração da argola na orelha serve para ouvir você próprio falando. As palavras são ouvidas no momento mesmo em que são faladas. Elas viajam de dentro para fora e de fora para dentro. falando, você está sempre recebendo, de fora, uma impressão causada pelo que vem de dentro, quando as palavras voltam para você através do ouvido.
Ouvir a mim mesmo falar, silenciosamente, é um outro nome para pensar, diz Kant, como se tivéssemos um ouvido na nossa mente. Será que usamos jóias no ouvido da mente? Um brinco ornamental para a mente, isso é o que eu gostaria de criar, com minha arte de joalheiro para trançar e urdir fios como jóias falando ao ouvido. Mas, afinal, talvez seja apenas uma ilusão isso do pensamento estar na mente. Os nativos do Taiti, diz Kant, chamam o pensamento de falar na barriga. Não surpreende que tanta gente, hoje em dia, esteja botando argolas em seus umbigos."


Trecho do livro "As jóias falam", de Richard Klein.

domingo, 6 de julho de 2008

Closed

Li no caderno "Mais" da Folha sobre o fechamento em cadeia dos clubes de sexo de New York:

"Os jovens de 21 anos querem namorar. Não sentem ódio por eles mesmos."

sábado, 5 de julho de 2008

Sem medo

Mesmo muita gente sendo contra, achando feio, chato, brega, um ataque ao bom gosto, antigo, pouco moderno, nada tecnológico, perda de tempo, fiz isso sim. Não vou mentir ou esconder. Não, nåo negarei. Fui sim e daí? Que que tem?


Olha, hoje fui ao teatro e algumas frases do belo texto se fixaram desta forma na minha mente:


"No pôr do sol, a lua coloca o sol para dormir.

O relâmpago é um beijo do céu na terra.

O medo é a véspera da coragem.

Se não temos tempo para prestar atenção no ato de lavar o próprio rosto, significa que o tempo correu mais que nossas pernas."


Além destes aprendizados, concluí que insistir vale sempre quando o objetivo é buscar algo que toque lá na alma.

E que é sempre bom não ter o menor medo de se fazer o que gosta.


Segue o poema que serviu de inspiração para a bela montagem do Grupo Espanca!, de BH, que tenho o orgulho de acompanhar desde a primeira aventura:


Congresso Internacional do Medo - Carlos Drummond de Andrade


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.