domingo, 8 de janeiro de 2012

ÇERTO E ERRRADO

"Eu não escrevo sobre mocinhos e bandidos. Escrevo sobre conflitos entre o certo e o certo. Trágicos conflitos entre o certo e o certo. Aliás, considero o conflito palestino-israelense um conflito entre o certo e o certo. Entre uma reivindicação muito poderosa pela mesma terra e outra reividicação não menos poderosa pela mesma terra. Esta é a natureza da tragédia: duas reividicações poderosas. Caixa Preta e todos os meus livros não são sobre mocinhos contra bandidos. Quando acordo de manhã - e me levanto cedo, às 5 horas da manhã - caminho por 40 minutos no deserto onde eu moro, e, em seguida, volto, tomo uma xícara de café, sento à minha escrivaninha e começo a me perguntar: E se eu fosse ele?", "E se eu fosse ela?", "E se eu fosse eles?". E me coloco no lugar de todos. Sim, em Caixa Preta todos estão certos e errados. Esta é a essência da história, a essência do que escrevo. Uma História de Amor e Trevas fala da tragédia dos meus pais e os dois estão certos e errados. Portanto, escrevo sobre pessoas que estão sempre certas. Há uma história judaica sobre um rabino que, como um juiz, tem de decidir entre duas reividicações pela mesma cabra. Ele ouve todos e, em seguida, diz: "Ambos estão corretos." Ao chegar à sua casa a esposa lhe pergunta" "Querido, como podem ambos estarem certos se reivindicam a mesma cabra?" E ele diz: "Sabe de uma coisa, querida, você também está certa." Eu sou este rabino. Quando escrevo um livro eu sou este rabino. Todos têm razão." Amos Oz