quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Deixe Levar.

Deixe o capitalista tamponar a dor com bens. Deixe o sócio se apropriar de tudo. Deixe os políticos roubarem pra lá. Deixe os ratos. Deixe a polícia policiar. Deixe os ignorantes serem donos da verdade. Deixe os títulos para os titulares. Deixe os palestrantes exercerem a falta de talento nas festas de família. Deixe o publicitário mostrar sua pobre visão de vida na mesa de bar. Eles não têm outro lugar. Deixe o pai bravejar. Deixe a mãe pôr panos quentes. Deixe o pastor pastar. Deixe os juízes a julgar. Deixe a propina rolar. Deixe levar tudo. Deixe os ratos. Deixe pra lá. Deixe a desejar. E apenas deixe o seu desejo pulsar. Este ninguém pode levar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Em nome do Pai.

O velório foi enxuto: pouco tempo, as lágrimas na quantidade certa. A tristeza estava ali, mas não transbordou. Muita dor, pouco excesso. Muita lembrança e a sensação de que ainda era cedo. O morto era reservado até na hora da morte. Os filhos em volta eram 6. O sétimo faltou. Para que ele fosse enterrado, tivemos que seguir em carreata pela cidade tipicamente do interior, passando pela praça central, claro. Enquanto o corpo seguia em direção ao cemitério, o corpo do 7º filho, ainda vivo e caminhando, subia a rua principal da cidade, na direção contrária. Sem nem se dar conta de que quem agora ia fugir pra sempre era o próprio pai.