Mãe,
Estou indo.
Vou me afastar um pouco de ti.
Vou morar na capital.
Vou deixar a barra da sua saia.
E enfrentar outras.
Não vou ter sua superproteção.
Você não vai fazer meu prato no almoço.
Você não vai defender o pedaço do frango que eu gosto.
Nem colocar meus irmãos que me bateram de castigo.
Não vou andar na cidade agarrado a você.
Fazer os seus programas.
Suas compras.
Nem vou ganhar o picolé que eu mais gosto por causa disso.
Mãe, eu vou.
Mas eu vou voltar sempre.
Sempre aparecer por aqui.
Você vai lá também.
E aí vou te passar meus longos relatórios.
Minhas notas de escola.
Minhas vitórias no vôlei.
Tentar falar de alguma derrota,
Alguma falha
Que você não vai aceitar
E mudar de assunto
E não enxergar
E continuar me achando perfeito
Caçula
Me protegendo mais e mais
Achando que eu não dou trabalho, nunca
Nem quando eu apronto
Quando sumo
Quando não dou notícias
Quando trago meus cigarros
E com a fumaça indico que há fogo
É tanto tempo junto
Tanta coisa dividida
Uma grande simbiose
E mesmo assim a gente sabe
Que há a hora dela ser desfeita
Qua há a sua hora sem mim
E a minha sem você
Sabemos que é difícil
Mas a gente consegue
Você me ensinou muito
E agora é a hora de eu ir atrás do meu mundo
Para trazer um tanto de coisas novas para te contar
Vou lá mãe
Está na hora
O ônibus vai passar na cidade
Não tem ninguém de carro para me levar
Caminhe comigo até o mata-burro
A gente vai olhar para as árvores
E querer abraçá-las
Vai gostar de sentir o cheiro da nossa terra
Do lugar em que construímos muito juntos
Um mundo
Vamos dar um grande abraço
Um beijo
Uma bênção
E você vai me soltar no mundo
Já tenho idade:
12 anos
Quase 13
E quem sabe eu não me transformo
Num grande homem?
Parabéns para a minha mãe Léia, que hoje faz 80 anos e que não vou vê-la.
Ela fez uma coisa que eu adoro fazer também:
Fugiu, vazou, foi passear.
Beijo, mãe.
Penso em você hoje o dia todo.
A gente está juntinho.
Do seu,
Medinho
segunda-feira, 9 de junho de 2008
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12 comentários:
Ai. Essa cartinha aí do começo ganha todo um novo sentido depois que a gente tem filho. Doeu aqui (apesar da sua previsão final ter se concretizado com louvor). Um superbeijo pra Dona Léia.
Dona Léia, Feliz Ano Novo!
Seu filho é um artista de mãos, olhos e coração cheios. Cheios de vida bem vivida, de amores repartidos, mas por isso mesmo, sentidos.
Vida eterna, Dona Léia.Que assim sempre seja.
Um beijo meu, aos dois.
Bel.
"Quem sai aos seus não degenera"...expressão conhecida e muitas vezes cheia de razão.
Tenho certeza que você tem muito de sua mãe e nem percebe.
Esta vontade de viver a e na liberdade, vê-se que é comum aos dois. Tanto é que ela o deixou "partir bem cedo" de debaixo de suas asas super poderosas.E olhe que para os filhos estas asas realmente têm poder.
Isto não é pra qualquer pessoa; não é pra qualquer mãe.
Abraços.
Rosa.
Muito emocionante. Lembrei de minha mãe, da minha infância, de coisas que tbm passei e que foram assim mesmo.
Parabéns pela poesia, pela declaração .
Parabéns Dona Léia.
PERFEITO COMO SEMPRE!!!!!!!!!!!!!!
Será que a D.Léia leu? Será que os filhos e netos dela leram? Tive apenas uma notícia por e-mail. Agradeço as mensagens de carinho por ela. E por mim.
Delícia das delícias!
Eu saí um pouco mais tarde de casa, com uns 16, mas até hoje lembro do frio na barriga...
Claro que li
Je lis.
J'ai amé!
Lis.
Roger.
Li e chorei. Li ou chorei.Reli.Rechorei.
Ai Med.
Ahmed
Que lindo o texto, eu também já fui, já voltei, já fui e voltei de novo......mas vejo que estou precisando ir de novo....essa superproteção, ainda eu sendo o filho único não é saúdavel para o meu crescimento.....mas ao mesmo tempo por ser o único as saídas são mais difíceis .....Fábio Perches
Abraços
Parabéns Dona Léia
Felicidades, muita paz e saúde
Abraços
Fábio Perches
Acho que D. Léia não deve ter lido os comments, mas deveria. Legal Fábio: "vamos decolar pra sempre!" Muito bacana vc estreiar aqui nos comments.
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