Ouvi em uma tarde de sábado que devemos dividir as nossas jóias com os outros. Ouvindo-me falar isso, Cláudia logo garimpou um livro guardado em suas memórias e que poderia elucidar o raciocínio. Foi aí que ela me entregou esta pérola. Acho que funcionou como uma pedra rara que capta a luz e a faz irradiar iluminando todos os cantos.
"Usar um brinco na orelha diz ao mundo que você gosta de ouvir o som de sua própria voz. Você quer ouvi-la primeiro, antes de qualquer outra. Botar um brinco é uma forma de narcisismo sedutor.
As pessoas são atraídas imeditamanete pelo narcisismo; é por isso que elas adoram crianças pequenas. O que todos nós desejamos é o amor sem obstáculos da criança, ou qualquer animalzinho, por si próprio. Katharine Hepburn fez uma carreira a partir do narcisismo sedutor, que consiste em dar, engenhosamente, a impressão de que você não liga a mínima para como as outras pessoas a vêem, o que importa é como você vê (ou presta atenção) a si própria. Tocando o brinco, naquela pose de auto-absorção, ela ilustra para que servem os brincos.
Orelhas pequenas são mais graciosas que as grandes e são sinais, achava Nietzsche, de mais agucada distinção. Orelhas grandes ouvem tudo. Eventualmente, ficam surdas para os sons mais sutis pelo rugido de todo o barulho do mundo.
A vibração da argola na orelha serve para ouvir você próprio falando. As palavras são ouvidas no momento mesmo em que são faladas. Elas viajam de dentro para fora e de fora para dentro. falando, você está sempre recebendo, de fora, uma impressão causada pelo que vem de dentro, quando as palavras voltam para você através do ouvido.
Ouvir a mim mesmo falar, silenciosamente, é um outro nome para pensar, diz Kant, como se tivéssemos um ouvido na nossa mente. Será que usamos jóias no ouvido da mente? Um brinco ornamental para a mente, isso é o que eu gostaria de criar, com minha arte de joalheiro para trançar e urdir fios como jóias falando ao ouvido. Mas, afinal, talvez seja apenas uma ilusão isso do pensamento estar na mente. Os nativos do Taiti, diz Kant, chamam o pensamento de falar na barriga. Não surpreende que tanta gente, hoje em dia, esteja botando argolas em seus umbigos."
Trecho do livro "As jóias falam", de Richard Klein.
domingo, 13 de julho de 2008
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5 comentários:
brinco no cérebro... hmmm.. deve mesmo ser como o piercing, pois várias vezes dá vontade de arrancá-lo, calá-lo, fazê-lo parar de vibrar.
Braço, tio
Alguém certa vez me escreveu que só se é feliz ao compartilhar com os outros, assim como, vejo agora, a jóia só será jóia se a dividirmos com os demais. Será por isso que dividimos nossas idéias por aqui? Será que nossos escritos são os brincos das nossas mentes, que nos permitem ouvir o "som" (ou o silêncio) de nossos pensamentos? Será que se tornam jóias ao serem divididos com os outros?
Acho que é isso mesmo, Juliana! Com a internet ficou mais fácil de dividir exatamente com que quer um pedacinho do que a gente pensa.
Esta história de orelhas grandes serem menos graciosas concordo, mas que elas são surdas aos sons mais sutis, discordo de corpo e alma.
Compartilhar jóias, sempre.
Lis.
Lis, se depender do seu ouvido, tb discordo! E obrigado por compartilhar as suas jóias comigo, há muito anos, melhor, sempre. Bjo, vem logo! Med
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