domingo, 3 de agosto de 2008

Manifesto Disarmed antiafeto!

Nos últimos dias uma palavra vem rondando a minha mente. E o nome dela é afeto.
Buscando, agrupando e tentando entender coisas, pessoas e comportamentos que me incomodam, inclusive em mim, cheguei à conclusão: não suporto afetação.
E afetação nada mais é que passar da conta: amar demais, beber, rir, sair, ler, ser inteligente, ser burro, infantil, sério, work (aholic), vagabundo, fumar, ir à igreja, à escola, ao cinema, teatro, balada, biblioteca, padaria...tudo demais.
Eu não aguento (já sem trema).
Continuando a lista de exemplos: querer escrever certo demais, ser atual demais.
Pois também, em algumas ou muitas situações, faço parte do clube dos afetados.
Mas que é chato, é.
Os fãs de Madonna que o digam. E os dos Beatles? Do Batman, de Stars Wars (estes não entendo mesmo). Os de Marina? (estes tento entender o tempo todo, inclusive agora).
Lá vem ela falar de igreja. Lá vem ele falar que tem que devorar um livro por dia. Lá vem ele: o rato de academia. Lá vem o da balada, o do teatro, o da tv, o do cinema. E cada um para amar tanto algo acaba tendo que odiar o outro algo. Ai que cansativo! Doído e trabalhoso para si mesmo. Quem quer ser modernoso não vai ao teatro e quem ama o teatro nem liga a tv. Este já nåo acredita em nada que não frequente seu Planeta Tela. E agora arrasando em todas os lares, oficina e salas de espera de aeroportos: a tela do computador para a qual olho neste exato momento, substituta da outra, mas que reproduz tudo, só que editado, de todas as telinhas e telonas.
Sabe aquela pessoa que berra quando você chega como se fosse o Maichael Jackson aentrando um ambiente? Aí a festa inteira volta o olhar para a sua pessoa naquele momento leve-insegurança-de-não-saber-quem-te-aguarda-no-ambiente-estranho. Mas você não é o Michael. Decepção total da galera. Ai, tenho sincero medo destas pessoas. Ou deste comportamento em uma pessoa.
Gente caindo de bêbada, aquele maconheiro convicto que prega seu vício como um pastor evangélico (ou católico agora) daqueles mais cegos e covictos. Nada pior. E nada contra o ato: cada um com seu Free, mas sem querer aprisionar ninguém, please.
Quer dizer, algo contra sim: religioso dizer que camisinha não evita o vírus da AIDS e só a castidade pode nos salvar é quase um ato afeto-genocida. Todo mundo aqui sabe que na hora H é melhor, mais prudente e seguro ter a auréola na carteira, já que a da cabeça passa a não funcionar nestes momentos.
E intelectual afetado? Ai, senta na mesa e quer que quer provar que sabe e leu isso e aquilo. Um discurso cheio de "mente". Francamente! Carentemente deficiente, heim? Sei que você mente!
E burro afetado? Convicto de que ser medíocre é maravilhoso. Nem sei o que é pior.
Tem aquele que só vence, sonho não realizado de toda uma população que transfere toda esta fúria para o outro, em forma de euforia. Esse quando perde, coitado! Carrega a frustação de tal população toda nas costas. Mas não tenho dó porque o próprio vive falando que prata e bronze não servem. Que viva correndo atrás do ouro, então!
O fato é que a vida de ninguém é um "peixinho" (aquele se jogar de peito e alma no chão da quadra de vôlei) deslizando sob holofotes, como a vida editada quer mostrar. Um Prozac. Quer ficar feliz? Olha o peixinho! Todo mundo bonito, rico, vencedor, sarado, com 2m de altura e a favor da honra nacional.
São pessoas que fazem de uma casa, uma viagem, um filme, um programa, uma trepada o lugar mais maravilhoso do mundo e inatingível para o outro que a escuta. Ou finge escutar. Só para se vender como especial, forçar a amizade. Uma forma de conquistar algum amor que tanto lhe falta.

Nossa! Que coleção de situações comuns! Que rotina, isso é em todo lugar: a vida virou um folder, uma campanha política, um varejo, uma apresentação em Power Point de um software-salvação que acabou de chegar ao mercado, uma mega influência da estética de Hans Donner e Falabelas.

Uma bomba, que urge ser desarmada. Até porque quando tudo isso é sabido, fica um joguinho meio sem graça: tolinho como velhinhos jogando carta.

Mas é melhor ficar por aqui. Escrever sobre este assunto já está mexendo com o meu afeto. E o que não quero é ser afetado, neste exato momento da minha vida.

6 comentários:

LP Camisasca disse...

CLAPCLAPCLAPCLAP!
Poooorra! Me senti mesmo dentro da sua mente! Com a rapidez dos pensamentos que vêm e vao, do pró que encontra o contra, as contradiçoes... que ótima viagem! Gosto assim, quando consegues aproximar ao máximo o pensamento do teclado, com o mínimo de barreiras.
Parabéns, tio!
Lu

Anônimo disse...

UAU!
'Caraca!', como se diz aqui.
E de se virar de ponta cabeça e sair sentindo-se um suco....
Ei, que tal enviar para um jornal descente?
Valeu, 'mon frère'!
Bravo!
Lis.

Anônimo disse...

Parabéns! Muito bom. Antropologia pura, sensibilidade, humanidade... ih nem vou ficar teclando muito para não ser demais.
O Luiz Paulo já está todo "aportuguezado": "...quando consegues aproximar..." Abraços Luiz Paulo.
Outra observação: Vejam a hora da postagem(2h47). Enquanto o mundo dormia, Disarmed fervia.

Anônimo disse...

"enquanto não durmo, enquanto te espero. Chove no muro, eu não me acostumo...". Ai, Lis. Acho que não quero outra profissão não. Está bom assim. Obrigado aos três. Valeu! Ahmed

Unknown disse...

Somos mais do que afetados pela banalidade, pela repetição, pelas paragens áridas, pelo conforto pálido e medíocre do mesmo...

Vc emocionou por aqui... obrigada.

Ahmed Hamdan disse...

Obrigado a vc, Rebecca.