quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Mas

Natal é bem chato, mas tem essa coisa boa do encontro. E, ah, aquela pessoa é insuportável, mas sabe que me surpreendi com a educação? E acaba que é uma ideia muito legal, mas foi meio mal executada. O trabalho agarrou numa bobagem, mas quando sair dessa tenho certeza de que vai dar certo. Nem vou falar de política, apesar de ser tão importante. Vou falar sim, não dá para beijar boca vazia de palavras. Tem gente que vive assim: só pelo olho. Capturado achando que captura. Dá pra engolir não. As pinturas nas laterais dos prédios da cidade estão ficando lindas, mas são empenas cegas: só enxergam os que querem ver. Mostrar a bunda de celulite é muito educativo, mas contratar abusador é muito desaviso. O abusador não tratou bem a bunda cheia de celulite. A música? Sei não. A gente acaba acostumando. Mas tem que beber bastante, que também enche. Bora de água de coco e açaí natural do Pará. Amor e amora. Há consenso: a Pablo Vittar canta muito mal, mas arrasta multidões para o seu canto. Que nem o Chico Buarque. Mas se você mora no Leblon, tudo bem. Só leva xingo de coxinha. E ainda dizem que não há um significante que determine o sujeito. Isso é enigmático, mas também pode ser outra coisa. Pode ser que seja a coisa. Aquilo que foi perdido lá bem no início. Que nem existe, mas a gente fica aí a procurar.

domingo, 12 de novembro de 2017

A penas

Não tenho vontade de sair. Não tenho forças, meu corpo dói, meu joelho berra. Quero falar, mas não tem ninguém que mereça a terefa de escutar. Quero enviar uma mensagem para a minha analista. Quero mais do que uma sessão de uma análise que já teve o seu fim. Não quero estar no Brasil, nem pensar. Não quero ser humano, está difícil defender a espécie. Quero distribuir o que não sei para aquele que não quer. Quero tratar do impossível, dizer o indizível. Quero o real bordejado com algo bem do interior, mineiro de preferência. Não quero notícias: dos portais, de doenças, de morte, do mercado, de famosos, do esporte. Quero o nada esvaziar. Descompleta-me. Quero parar de sentir vergonha do meu país e deixar as pessoas falarem o que bem desintendem. Não quero ouvir. Quero parar e seguir. E escrever o que não cessa de não se escrever. Quero a penas, escrever. Sob efeito de 2 dias consecutivos de Jornada do Aleph - Por que a psicanálise? Agora posso continuar.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Deixe Levar.

Deixe o capitalista tamponar a dor com bens. Deixe o sócio se apropriar de tudo. Deixe os políticos roubarem pra lá. Deixe os ratos. Deixe a polícia policiar. Deixe os ignorantes serem donos da verdade. Deixe os títulos para os titulares. Deixe os palestrantes exercerem a falta de talento nas festas de família. Deixe o publicitário mostrar sua pobre visão de vida na mesa de bar. Eles não têm outro lugar. Deixe o pai bravejar. Deixe a mãe pôr panos quentes. Deixe o pastor pastar. Deixe os juízes a julgar. Deixe a propina rolar. Deixe levar tudo. Deixe os ratos. Deixe pra lá. Deixe a desejar. E apenas deixe o seu desejo pulsar. Este ninguém pode levar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Em nome do Pai.

O velório foi enxuto: pouco tempo, as lágrimas na quantidade certa. A tristeza estava ali, mas não transbordou. Muita dor, pouco excesso. Muita lembrança e a sensação de que ainda era cedo. O morto era reservado até na hora da morte. Os filhos em volta eram 6. O sétimo faltou. Para que ele fosse enterrado, tivemos que seguir em carreata pela cidade tipicamente do interior, passando pela praça central, claro. Enquanto o corpo seguia em direção ao cemitério, o corpo do 7º filho, ainda vivo e caminhando, subia a rua principal da cidade, na direção contrária. Sem nem se dar conta de que quem agora ia fugir pra sempre era o próprio pai.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Tape #14

Vou confessar que vi a série 13 Reasons Why só para ler o texto com aviso de #SPOILER da Adriana Pinheiro, que não tem a opção Compartilhar. Hoje, pra mim, a ideia é pensar muito e não fechar, concluir. E falar muito, muito sobre as dores e assunto doídos, incluindo suicídio, sem se esquecer das delícias, claro! Daí já acho que vale a pena a produção, o tempo "gasto" vendo e justifica o sucesso. Quando vi que a "Kidly" falou sobre, pronto, era a amarração que faltava para me motivar. Me vi naquele ambiente colegial, mas eu era um ser dentro-fora (êxtimo). E isso era ok para mim. Tinha meus sérios treinos de vôlei, os amigos mais velhos e um pouco mais maduros, ou seja, já era também de uma balada fora dali. Sem deixar de ser dali, claro, de ser um estudante aplicado adolescendo. Adriana era popular, abusada, garota olimpíada, nitidamente mais madura do que a pirralhada (e mais alta). Convivia com os caras que eu odiava, que eram exatamente os mais populares e chamados por nome e sobrenome. Adriana me chamava assim: AHMED HAMDAN. E isso para mim era bem importante e me dava mais segurança. No mais era o vôlei, os estudos (que sempre curti e continuo) e as baladas (que sempre curti e...). E pra que mesmo este relato? Ah...é minha fita passando, como diz o clichê, após ter passado a segundona de feriado na tarefa. Enfim, bora falar? Bora falar sobre suicídio, angústia, dor, tesão, conflito e, claro, muita bobagem? Acho que é assim que algo do intraduzível pode se transformar em palavra e, quem sabe, até impedir uma passagem ao ato. Quem sabe até acessar algo ali próximo do desejo, este real que nos assola e do qual temos pouquíssimo ou nenhum sinal de conhecimento. Desvendar, entender, compreender, representar? Ouvi falar por aí que é do campo do impossível.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

És

Em conversa com uma sobrinha que está "presa" em casa há 7 dias, em Vitória: Bacana seria se todo mundo fosse pra rua e desse as mãos. Entender que todos temos o espírito santo e profano ao mesmo tempo. O que muda são apenas as situações. Somos parte de uma mesma cultura, que saqueia o outro e a si mesmo o tempo todo. E sobre colocar lençóis brancos na janela, só vale se lembrarmos que a paz do branco só acontece se for mesmo a união de TODAS as cores. A partir daí a gente pode tentar pensar uma realidade menos angustiante.