sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Um capítulo a parte

Deturpada ou não, uma grande obra.
Uma delícia rara que a televisão pode nos proporcionar.
E eu, que não consigo ficar em casa à noite por 5 dias consecutivos, vi tudo, com muita paciência, pelo You Tube.
Uma novidade que nos faz perder tudo na tv sem a menor angústia.
E dá para rever momentos antigos, vídeos alternativos, fazer a sua diversão, do jeito que gosta. E SEM ESTA PRAGA HORRÍVEL QUE É A PROPAGANDA DE VAREJO!
Vida tem que ser assim: cada um fazendo o que gosta, dentro do possível e com limites, claro. Escolher o prato no cardápio é de direito. E traz felicidade.

A paciência veio com a chuva. É, tenho que aprender a conviver com você, minha amiga.

Algumas partes me interessaram mais: e olha que até anotei, isso seria impossível via tv. E ainda me estimulou a reler Dom Casmurro. Sinais do bem. Pause que vai aí e foi para você:



"Um homem consola-se, mais ou menos, nas pessoas que perde.
Mas falta eu mesmo.
E essa lacuna é tudo."


"José Dias amava os superlativos.
Era um modo de dar aparência monumental às idéias.
Não havendo idéias servia ao menos para prolongar as frases."

"Também se goza por influência dos lábios que narra."

"Não tenha ciúmes de tua mulher
pra que ela não se meta a enganar-te com a malícia
que aprender de ti."


Machado de Assis

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Se você fosse só poesia e cor

Como é que você se apresenta assim pra mim?

Não é você que tem mil segredos, rebolados,

malemolência nos quadris, na fala, no balanço, no gingado?

Não é você que é cheia de poesia e cor?

Qual era a intenção:

Fazer com que eu ande de um lado pro outro e descubra seus segredos mais íntimos?

Aqueles que poucos sabem

Ou que poucos querem saber?

Buscar os cantos, os lugarejos escondidos, o gosto que é sentido lá no fundo e que não sabemos bem do que se trata?

Pois saiba que não foi tarefa difícil

Você tem uns cantinhos tão sutis

Tão lindamente seus, mas que não aparecem nas fotos

Que mostram sempre só o tudo azul estampado

Luminosa, radiante, imponente.

E agora você me aparece acinzentada, calma, com um vento brando

Sabe que você estava meio São Paulo, meio interior de Minas?

Você estava meio nada

E o nada é a melhor forma de se esvaziar

Cabeça, corpo,

articulações cansadas do esforço

Dedos cansados de teclado

Mente cansada de se fundir

Você me confundiu

Eu adorei ser enganado

"E eu que achei que você fosse só poesia e cor"

Afinal

O que mais você tem, Bahia?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Maré alta

Será que a gente briga é para acertar os ponteiros?

Berrar o não-dito que o personagem cotidiano não conseguiu explicitar?

Será que estou triste ou de alma lavada?

Era dia de faxineira, mas a roupa começou a ser lavada bem cedo.

Antes que ela batesse à nossa porta.

E os personagens amigos dos subalternos entrassem em ação.

Era dia de lavar a alma, de música de mar: maré alta.

Em alto e bom som,

O mar trouxe a discórdia.

Trouxe uma bostinha enrolada na onda.

Ou notas molhadas amarradas por uma gominha amarela.

Revirou o esgoto da cidade.

Invadiu a minha praia.

Rachou o calçadão.

Sim, era a hora de lavar a alma.

Antes que o novo sol aparecesse

Pra gente tirar a canga do varal

Espichar o corpo na areia quente

E ter mais um novo banho de felicidade.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pensei em te ligar

Pensei em te ligar para conversar, já que você me enviou um carinhoso e-mail com o seu novo número de celular.
Mas tinha um evento para ir e acabei deixando os necessários telefonemas para hoje.
Agora ainda é cedo para ligar para alguém, para engatar uma conversa, para raciocinar através das ondas.
Ou por um fio.
O moço da banca viu o motoqueiro da agência passando e pediu que me entregasse a revista da Joyce Pascowitch que aguardava.
Vi aquilo em boa impressão, com fotos lindas, design bacana, depoimentos da colunista. Tudo mais bonito que nos sites de fofoca, nos programas trash da tv. Tudo mais a sua cara, o seu sorriso.
Tudo que todo mundo merecia...mas não tem.
O mesmo conteúdo. Este descrito logo aí abaixo. Que é lindo também.
É sincero. Tudo que todo mundo merecia...mas não tem.
Tenho pena, sabia?
Sinceramente tenho pena.
Eu sei que ser fraco dói (já fui um dia, ou por alguns momentos).
Posso até continuar a ser ou voltar a ser.
Mas só por um instante.
Nosso lema é outro, amor.
Somos da turma dos fortes por natureza.
Uma luta que não passa.
E não pára com o tempo. Como o tempo.
Que bom lutar. Ter causa, ter por quê.
Ter assunto, vida, voz, presença.
Contribuir com este tempo.
Sei que é sofrido apontar caminhos.
Sei que muitos não entendem e
muitos se fazem de desentendidos.
Mas não é esta mesma a nossa eterna próxima parada?
Olha, saiba que é muito bom estar em um evento, mesmo que ele inviabilize o meu telefonema,
e chegar uma pessoa bem bacana dizendo que viu a revista.
Agora falo ver porque ver a revista é diferente de ver ou ler na internet.
Este inevitável meio que não é feito só de bem.
As palavras ali casam com a imagem, tudo se completa.
É um ambiente que você merece e deve estar.
Você tem uma sofisticação feita para as pessoas que a merecem.
Não é para deselegantes.
Deselegantes, que infelizmente são a maioria, não gostam de você.
Não tem jeito. Aquilo parece não ter cura.
E você não vai deixar de ser elegante para agradá-los.
Nem eu. Estou com você.
E aguardo ansiosamente o seu próximo cd.
Ler que você tem sete músicas inéditas prontas é algo que me causa uma ansiedade boa.
Sete homenagens a uma escassa elegância que resta ao mundo, bem lá no fundo.
Que falta nos sites de fofoca, que falta nas pessoas em geral, que falta nestes inúmeros cds de samba que "pipocam" por aí.
Que bom que ainda existe você, o seu melhor. Que é capaz de mexer e causar polêmica.
E que ainda há um delicioso motivo para acordar cedo e escrever uma doce homenagem.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sabe quem eu já comi?

Neste meio-tempo já levei o site da Marina para a minha agência, já criamos, passei sábados e domingos conversando, trabalhando, ouvindo e falando, buscando soluções junto com ela e sua equipe. Já (?) colocamos no ar, já foi...melhor: já é porque está valendo e mandando muito bem. O resultado, se você não viu, está em www.marinalima.com.br

Hoje recebo um e-mail com um link de um site de "celebridades" chamado Ego (da Globo, claro). O título falava de uma revelação de uma transa de Marina no passado. Tinha umas 7 linhas de texto. O principal, nitidamente, era o aspecto fofoca do caso. Mas aí fui ler a entrevista que foi dada a Joyce Pascowitch, que ainda não foi publicada, e compreendi que o conteúdo atingia um lugar além do "ego", que é esta casca fodida que insiste em reger nossas vidas. Só que a gente quer ir mais fundo. Vamos lá:






Nesta entrevista exclusiva, a cantora dispara contra as famílias conservadoras que impedem suas filhas de experimentar o sexo entre mulheres, fala de sua primeira transa gay, de música, do lançamento de seu primeiro livro e do desejo de encontrar uma companheira, ou um companheiro, para compartilhar o seu mundo
Por Vanessa Cabral Fotos João Wainer

Entre uma coisa e outra, Marina Lima escreve artigos. Sobre assuntos que considera importantes. Sobre música, romance, sexo e mulheres. Sobre coisas que a façam rir. Em março do ano que vem, chega às livrarias do Brasil e de Portugal seu primeiro livro. Uma coletânea desses artigos, todos inéditos, costurados com entrevistas bombásticas (e sérias) que deu ao longo de seus quase 30 anos de carreira. Será publicado pela editora Língua Geral, especializada em autores da língua portuguesa para países que falam esse idioma. Marina escreve – orientada pelo professor Fernando Muniz e sua empresária Connie Lopes (dona da editora no Brasil) – no tom contundente das letras de suas músicas e de suas falas. Como as que proferiu nesta entrevista, em São Paulo, na Casa Glamurama.
Com uma certa timidez, que revela a menina que ainda é, e a sensualidade de mulher madura, Marina posou para o fotógrafo João Wainer. Entre as poses, falava. Gosta de conversar, de dar gargalhadas. Não fala explicitamente, mas sabemos que, apesar do bom humor, anda inconformada: recentemente se viu envolvida com uma mulher mais jovem, mas a relação não foi para a frente. A família da tal jovem, uma das mais tradicionais da capital paulista, pressionou para o fim do romance. “Não quero mais aventura. Sou muito aberta a tudo, mas não cabe mais na minha vida coisas que vão me fazer infeliz”, lamenta.
Aos 53 anos, Marina se diz mais leve, relaxada, sem tantos medos. Livre dos tenebrosos tempos que sofreu de profunda depressão e culminou com a perda da voz. Um golpe duro para uma cantora. “A idade nos ensina que o tempo é curto, não tenho mais tempo a perder”, ela ri. Solta aquela sua gargalhada típica, aberta, da garganta. “Eu quero casar”, dispara. “Chega de saber tanto e não ter com quem compartilhar”, poetiza. “Quero alguém que veja a minha alma e goste de mim como eu sou”, diz ela, que não pára e parece ter uma energia quase adolescente. O.k. Marina, nós entendemos. É tanto amor que não cabe em si. Tanto que está compondo muito para o próximo CD, previsto para o primeiro semestre de 2009. E diz que as novas canções virão cheias de “metáforas inteligentes” para mexer com a cabeça de todo mundo.
J.P: Por que você acha os paulistas mais caretas do que os republicanos (nos Estados Unidos)?
Marina Lima:(risos) Há anos eu quero morar em São Paulo, porque eu adoro esta cidade, mas não consigo. São Paulo tem de tudo: indústria, show, moda, se ganha muito dinheiro e se conhece gente que trabalha para crescer e mudar a imagem do Brasil. Isso me atrai. Mas tem um lado que puxa esta cidade para trás. São essas pessoas que vêm do interior do país e mantêm aquela mentalidade careta e conservadora.
J.P: De quem você está falando?
ML: Dessas pessoas que têm muita grana de família e são muito respeitadas por isso. Porque, em São Paulo, ter dinheiro é ter poder. E elas têm filhos, netos, que nasceram num mundo diferente do delas, que não nasceram lá em Goiás, no interior de Minas Gerais ou no interior de São Paulo. São pessoas que estudaram, viajam muito, que cresceram no mundo de hoje. E o mundo hoje mudou. Sexo hoje é diferente, a moral é diferente, entende? As coisas são mais naturais hoje em dia. Mas não para esse pessoal enraizado no interior do Brasil.
J.P: Você acha que atrasam a mentalidade do país?
ML: Atrasam. Por causa dessa mentalidade antiga, careta, várias coisas que tem no primeiro mundo não tem aqui.
J.P: Como o quê?
ML: Permite-se casamento entre pessoas do mesmo sexo na Holanda e na Espanha, por exemplo. [Barack] Obama é a favor disso nos Estados Unidos. E no Brasil, em São Paulo, as pessoas parecem que votariam no Bush se pudessem. Como São Paulo é um lugar que agrega gente do Brasil inteiro, tem famílias de muito dinheiro morando aqui, mas que pensam como no século passado. E reprimem seus filhos e netos, que são pessoas que nasceram no mundo moderno e estão a fim de experimentar a vida da cidade grande, mas os pais e os avós não deixam. E qual é a moeda? É o dinheiro. Se você for livre, eu tiro o seu dinheiro.
J.P: Você fala de chantagem? Se a filha ou o filho quiser ter uma transa homossexual cortam a mesada?
ML: Volta e meia, vejo isso. Acontece que eu, por ser famosa, atraio tudo que é tipo de pessoa. E o meu trabalho atrai muita gente jovem. Então eu conheço pessoas em São Paulo ótimas, talentosas, ligadas à moda e à cultura, e volta e meia percebo que as famílias as puxam para trás. E causam uma infelicidade enorme, porque esses jovens, que vão a Londres, a Nova York, em São Paulo têm de ficar se segurando porque a família exige um comportamento do interior de não sei onde.
J.P: E no Rio, é diferente?
ML: É bem mais liberal. Lá o dinheiro tem menos valor. No Rio, se tem outros interesses, a grana não é tão importante. Coisas belas são mais. São Paulo reúne os dois, mas tem gente que vive aqui achando que está na roça. O mundo mudou. São Paulo é uma representação do Primeiro Mundo no Brasil. Então, seria importante a mentalidade também mudar.
J.P: Mas não é papel dos jovens enfrentar e derrubar padrões conservadores?
ML: Pois é, o que eu percebo aqui é que o dinheiro tem um valor enorme. Se for experimentar aquilo ali, eu tiro o dinheiro. E os jovens se prendem a isso. A minha adolescência foi nos anos 70, uma época de valores bem diferentes. Dinheiro era uma conseqüência. Hoje, tudo é mais plástico, careta e hostil.
J.P: Mas os tais jovens compactuam quando cedem à chantagem financeira, não?
ML: Para você ver como o dinheiro tem uma importância enorme, né? Se uma garota de 25, 30 anos quer transar com mulher, qual é o problema? Meu Deus do céu! Por que isso ameaça tanto?
J.P: O que você acha que eles temem? A maioria não admite ver a filha com outra mulher?
ML: É o medo diante do que os outros vão pensar. O mundo está em outra e esses caretas se dão ao trabalho de tentar sustentar uma mentalidade já falida. Você pode ser ladrão, escroto, mas se tem uma imagem, tudo bem. E não é mais por aí. Os valores humanos têm de ter importância. Eu sou filha de nordestinos e meus pais eram muito respeitosos. Meu pai [Ewaldo Correia Lima] era um intelectual, ético, um homem de valores. Se os filhos quisessem ser assim ou assado, desde que fossem corretos, ele era incapaz de se meter. Essas pessoas têm muita grana, mas não têm um senso muito claro do que é ética. Até que ponto você pode se meter na vida do outro, na vida do próprio filho. Tem limite. Até os animais têm de ser respeitados, entendeu?
J.P: Marina Lima quer casar?
ML:(risos) Já morei junto três vezes. (pausa) Na realidade, é assim: Fiz 53 anos e muitas coisas na minha vida não cabem mais. Não cabe mais drama, não cabe mais coisas que vão me trazer infelicidade. Eu quero que as relações durem mais. Não estou atrás de aventura. Sou aberta para qualquer coisa, mas eu queria realmente encontrar um companheiro ou uma companheira para dividir as coisas que eu sei, para compartilhar o meu mundo, de uma maneira mais madura, adulta.
J.P: O compromisso de acertar não dá mais medo de errar?
ML: Quando se está mais velho, você se conhece melhor e já sabe o que quer. Não tem medo.
J.P: Você já disse uma vez que era pansexual.
ML: Não (risos), foi a Joyce que disse que eu era pan. Eu disse que transava com mulheres e com homens. Mais com mulheres. Eu não transo muito na realidade. A imagem que eu passo é de uma pessoa que faz [tem relações sexuais com] todo mundo e, na realidade, eu não transei com muita gente. Gosto de transar com amor. As mulheres não dividem sexo e amor.
J.P: Mulher gosta de romance.
ML: É, homem vai a uma sauna, bota tudo para fora e escolhe a mulher certa com quem ele quer ficar. A mulher se confunde toda.
J.P: Duas mulheres juntas não é muita encrenca?
ML: Conheço casais héteros que só faltam se matar (risos). As pessoas têm de pensar o seguinte: Qual é o problema de realizar as fantasias se na imaginação já se pensa tanto? Tem um abismo entre o que você pensa e o que você realiza. As pessoas imaginam loucuras, mas por preconceito têm medo de experimentar. Ninguém é obrigado a fazer nada, mas deixa quem quiser fazer.
J.P: Por que você gosta mais de mulher?
ML: Tenho mais facilidade de me relacionar com mulheres. Eu me sinto mais à vontade com uma mulher. Com homem, é mais complicado.
J.P: Por quê? Os homens a assustam?
ML: Porque somos muito diferentes. Uma mulher é um bicho de sete cabeças para qualquer homem; sendo uma mulher famosa é mais. Uma mulher famosa tida como bissexual mais ainda. E eu imagino que os homens têm uma idéia de mim de que eu sou muito desinibida. E eu não sou.
J.P: Mas você é tímida?
ML: Não sou tímida, mas quando procuro um homem é porque quero ser a mulher dele. E eles imaginam que eu vá comê-los. Quando eu tinha 24, 25 anos, namorei um cara lindo da sociedade carioca, um pão (risos). Ele me lembrava o meu irmão Beto: moreno, alto, bonito. Eu fui de coração aberto. Não era mais uma adolescente, mas senti uma paixão intensa, como se tivesse encontrado um príncipe. Transei com ele, mas eu não tinha muita experiência, e fiquei muito magoada porque ele contou para todos os amigos. Aquilo foi um choque para mim, porque eu estava apaixonada e queria aprender com ele. Foi uma decepção enorme. Então, com homem, sou muito seletiva mesmo. E tem de ser bonito (risos). Estou brincando, mas tem de ter charme e ser um homem no qual eu possa confiar.
J.P: Mulher é mais confiável?
ML: Eu tenho mais prática nisso (risos). Não vejo a mulher como uma competidora. E, com homem, eu tenho mais pudor.
J.P: Desde criança?
ML: O primeiro homem por quem eu me apaixonei foi um primo, filho do irmão do meu pai, chamado Ewaldo, o mesmo nome do meu pai. Coisa mais óbvia (risos). Eu fui apaixonada pelo Ewaldo dos 12 aos 16 anos, mas depois fiquei muito ligada à música. E lembro que eu vi uma vez a Gal [Costa] no programa do Chacrinha. A Gal com cabelo crespo, e o meu cabelo era crespo também. Ela estava com uma guitarra e cheia de anéis. E eu tinha vindo de fora, morei dos 5 aos 12 anos nos Estados Unidos, e nunca fui ligada a raízes, sempre fui mais internacional. Então, quando eu vi aquela imagem da Gal, pensei: Ah! É possível isso no Brasil. Eu tocava violão muito bem, queria trabalhar com música, mas não conseguia achar uma expressão cultural popular com a qual eu me identificasse aqui no Brasil. Quando vi a Gal no Chacrinha, vi que existia espaço para isso aqui. Fiquei louca pela Gal. Um tio meu da Bahia me levou a um show dela e eu fiquei muito fã. Passaram alguns anos e eu ouvi falar que Gal era gay. Foi um choque para mim. Um choque! Eu não estava nesse mundo. Eu namorava o Ewaldo, não estava nem imaginando isso. Aí eu soube que essa mulher, que era meu grande ídolo, transava com mulher. Foi um choque, mas aquilo abriu uma porta para mim. Até que, enfim, eu conheci a Gal. Eu tinha 16, 17 anos, e ela começou a brincar de sedução comigo. Fiquei em pânico e voltei para os Estados Unidos. Fui estudar música para ficar longe e não ter de lidar com aquilo, para poder pensar. Sou virginiana, eu gosto de pensar sobre as coisas e entendê-las. Aí, lá fora, eu vi que eu queria experimentar, e que a pessoa que eu queria era ela. Voltei para o Brasil, com uma fita e assinei um contrato com a Warner aos 17 anos. E me aproximei da Gal e acabei transando com ela. Foi muito importante para mim.
J.P: E os seus pais?
ML: Minha mãe conversou comigo, mas meu pai nunca falou sobre isso. E ele era um homem muito exigente, com ética, moral. A turma do meu pai era Maria da Conceição Tavares, Celso Furtado, meu padrinho Hélio Jaguaribe, pessoas muito importantes para a história do Brasil. Ele tinha uma ética: Se você botou filho no mundo tem de dar um embasamento para ele poder engatinhar e descobrir o lugar dele. E não ficar usando o dinheiro para controlar os filhos, como essas famílias aqui em São Paulo fazem. Coisa suja comprar a própria filha. A Gal foi muito importante para mim porque me mostrou um outro horizonte. E me sinto em vantagem por isso.
J.P: Como é o amor no século 21?
ML: Uma grande confusão. Seria bom as pessoas terem menos medo umas das outras.
J.P: Mudando de assunto, o que você ouve?
ML: De tudo e muitas vezes, nada. Como eu tenho um ouvido doente, que ouve freqüências que ninguém ouve, valorizo demais o silêncio. Essa coisa de trilha sonora para tudo, eu não agüento. Às vezes prefiro os ruídos do mundo.
J.P: Mas quem são os seus eleitos?
ML: Nirvana mudou a minha relação com o rock. Estava muito cansada de rock, achando uma coisa chata, de gente branca, metida a pureza, careta, sabe? A entrada do Nirvana na cena sujou o rock de novo. E, no Brasil, essa onda de samba o tempo inteiro, acho um pouco chata.
J.P: Estilo Seu Jorge, samba tipo exportação?
ML: Não, Seu Jorge eu acho bom. Ele é o Jorge Ben de hoje em dia. Não que o Jorge Ben seja antigo, mas Seu Jorge representa na cultura brasileira neste século o que Jorge Ben foi há 20 anos. Vejo Seu Jorge num lugar muito alto, tenho grande admiração pela voz dele.
J.P: Não é elitista?
ML: Acontece que a indústria musical sofreu um baque como se as bolsas todas caíssem no mundo inteiro (risos). Seu Jorge tem de procurar as pessoas que estão a fim de divulgá-lo, e o mercado de música no Brasil empobreceu muito. A política do Lula visou os menos favorecidos; com razão, é louvável isso. Mas as pessoas querem algum tipo de diversão. Então foram empurrando no mercado as piores coisas que têm para ganharem dinheiro e o mercado brasileiro de música não falir. Seu Jorge exige calma, é um Cartola, é o alto nível. Não tem um monte de Seu Jorge no Brasil. Tem um monte de gente talentosa, mas esse é um cara especial. E o mercado investe no que vende mais rápido.
J.P: Como será o primeiro livro de Marina Lima?
ML: Será lançado pela Língua Geral, editora da Connie Lopes, minha empresária, que é especializada em autores da língua portuguesa. Meu livro será lançado em março do ano que vem, aqui e em Portugal. E eu não conhecia Portugal. Conheci e fiquei fascinada. Lá eu entendi muita coisa sobre o Brasil.
J.P: O que nos diferencia de Portugal?
ML: Portugal é bacana, está no mercado europeu, mas tem um peso de país pequeno, com muito falso moralismo. Eu acho que o brasileiro não é tão assim. A gente é mais livre. A não ser essas pessoas que lidam com o poder do dinheiro como um valor único e não conseguem se misturar com o resto. É uma pena. Para elas, claro!
J.P: E o livro?
ML: Chama Marina Entre as Coisas. Estou escrevendo artigos sobre temas que eu acho importantes: música, canto, mulheres, coisas que me fazem rir. Humor é essencial. Gente sem humor está fadada a ser infeliz.
J.P: Você é bem-humorada?
ML: Eu sou (risos). Valorizo muito o sexo, porque mexe com o corpo todo, faz o sangue circular e melhora o humor. É bom, nem que seja de vez em quando.
J.P: Além da Gal, você namorou outras cantoras.
ML: Eu transei com algumas cantoras. Não é à toa aquela história do canto das sereias. O canto hipnotiza, as pessoas se apaixonam pela voz. Eu transei com algumas cantoras, mas sem dúvida a Gal foi a mais importante. É a que vale a pena falar. Foi a primeira, né?
J.P: O que a fez chorar nos últimos tempos?
ML: Salvador. Eu tenho uma ligação com Salvador, namorei algumas pessoas de lá. Quando eu falo algumas, é uma ou duas (risos). É que foi tão intenso, que parece que foram muitas. Depois, comecei a achar que tinha um conto ali, desses que você cai. É como a Madonna fala de Hollywood, que ela ama, mas que pode tragá-la de um jeito que ela não consiga mais sair
J.P: Salvador a enfeitiçou?
ML: Eu senti Salvador assim e me afastei de lá. Logo depois tive depressão e fui menos. Mas, ultimamente, tenho ido. Há dois meses, fiz um show no Bahia Café Hall e fiquei emocionada. Foi uma vitória para mim.
J.P: Voltando ao canto das sereias, como é para uma cantora ficar sem voz?
ML: Muito complicado. Minha carreira sempre foi no tempo que eu quis, do jeito que eu quis. Eu ia devagar e sempre. Quando aconteceu isso, entrei numa fenda e tive de ir ao meu subterrâneo. Tive de buscar a semente do meu dom e por que eu gostava de cantar. Foi difícil, mas entrei e saí. Minha carreira é antes e depois disso.
J.P: Você sente o peso de ter de provar a sua recuperação?
ML: Falei sobre a minha depressão para ajudar outras pessoas, porque tem gente que acha que é frescura. Mas isso é mais profundo. É a minha carreira, o meu ganha pão.
J.P: Envelhecer assusta?
ML: Não tenho grilo nenhum. Estou mais segura, mais feliz, mais relaxada, com menos medo. E com menos medo, a gente se diverte mais.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Bom demais da conta!

Não há como negar como esta história de eleição tomou conta da minha cabeça nestes últimos dias.
E fico feliz por isso. É porque gosto de jogo, de emoção? Tudo bem, pode até ser. Pode também ser. Mas há algo mais.
Antes de sair de férias, havia um cenário político morno na cidade. Uma cidade que, depois de 4 prefeituras de esquerada, havia lançado um candidato apoiado pelo PT do prefeito Pimentel e PSBD do governador. Dois partidos inimigos juntos em uma candidatura. Polêmico! Voltei à realidade junto a uma turbulência política. Um moço havia se aproveitado desta falta de amor pelo candidato favorito e fez que nem mineirim: foi aos poucos conquistando o coração, principalmente das pessoas mais desavisadas, mostrando-se como um sujeito bonzinho, que fala a linguagem do povo, da maioria. Usando elementos como família e religião da forma mais canalha e suja que se pode fazer isso." Vote em mim: Deus vai te proteger. Vote em mim: eu quero ser o herói dos meus filhos." E ainda se aproveitou de outros elementos como jovialidade e uma suposta beleza-de-bairro para alimentar o desejo destas pessoas de votar por apenas quererem ser como ele. Rico, bem-sucedido, branco, ter muito cabelo na cabeça, uma esposa Poliana e um filho João Vítor, uma Maria Eduarda e outro com um destes novos nomes de pessoas que querem ser este modelo de sucesso, beleza e USA. Ninguém nem notou, mas o monstro cresceu. A primeira pesquisa do 2º turno indicava o bicho com 18 pontos de frente do nosso candidato-poste, ilustre deconhecido, afilhado do prefeito perfeito e do governador tão perfeito que não passa um finde em Minas ("eles não têm praia, mas Eu tenho"). Com o pânico instalado nas classes médias pra cima e nas ligeiramente intelectualizadas, resolvemos sair à luta. E fala com um, fala com outro, um trabalho de formiguinha em todas as mesas de bar, escritórios, portarias de prédio, telefones fixos e móveis. E ainda um serviço grande da mídia e de outros poderosos. Tudo junto. Vermelhos não se davam com amarelos, mas tiverem que concordar. Mauricinhos e modernetes de mãos dadas. Emos e punks dividindo tranquilamente a Pç. da Savassi. E aí foi uma virada só e que os institutos de pesquisa mostraram dia após dia. Que alívio! 59 a 41! Este foi o fim. E olha que nem fiquei tão feliz porque o bonito aí não foi o fim. Não sei se "o prefeito da aliança" continuará o trabalho, no mínino razoável, dos anteriores. Tomara que sim. Mas esta mobilização foi tão bacana, tão importante para cada um que se moveu e tentou o melhor para a cidade, que me emociona e orgulha. Dizem que o eleitor em BH é sábio e eu achei que iríamos perder esta qualidade neste ano. Só que ela ficou mais evidente ainda. Fomos e somos estratégicos, não apenas sonhadores. Passamos um susto nesta aliança estranha, demos o nosso recado e depois o ok. Portanto tenho uma proposta tentadora: Rio, contrata a gente para politicar aí? Nós vamos fazer o Gabeira ganhar, de sunga, e na praia! Do jeito que a mineirada ama e sabe fazer!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Santorini / Grécia

















Vivendo e aprendendo a perder

Sobre o seqüestro em Santo André, escutei de um psiquiatra em uma entrevista:

"isso é o que uma geração tão treinada para o prazer e o sucesso faz diante de algo tão comum como o fracasso."

Eu entendi que este raciocínio poderia ajudar muito outras gerações, inclusive a minha, que nem é tão jovem assim, mas tem muito a aprender. E a ensinar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A linha que divide

Antes de ir à Turquia, pedi algumas dicas do lugar para as pessoas que conheço e confio.

Uma das dicas que recebi foi a de assistir ao filme "Atravessando a Ponte", que fala da música em Istambul, de como a cidade vive esta influência em seu dia-a-dia.

Um documentário muito bacana, que já estava muito querendo ver no cinema e que deixei passar. Acabei vendo em casa.

Outra boa referência foi a sorte de achar, no aeroporto, um livro chamado "Sobre o Islã", de Ali Kamel. Este livro, em vez de cair no clichê de falar das diferenças entre as religiões cristãs, judaicas e muçulmanas, fala sobre as suas linhas de intercessão, que inclusive são enormes, mais do que geralmente imaginamos.

Isso da diferença, de achar o mundo do outro estranho realmente não é a minha praia. Melhor: eu gosto muito dessa diferença. Acho bom sentir que existem novas formas de pensar, agir, viver, ser feliz e se realizar.

O estranho me é normal.

Os lenços na cabeça das moças não me estranha, ao contrário, me encantam.

O que me estranha é a obrigação, o autoritarismo ou totalitarismo. O não poder concluir e ser um pau mandado.

Se você acredita que deve usar lenço na cabeça ao andar pelas ruas, use os com as estampas mais lindas. Use os da melhor seda.

Agora, se você não acredita e é obrigado(a) a fazer isso. Aí é triste, sim!

E a relação do islã com o terrorismo? Quem são os homens-bomba?

São totalitários, que fazem uma leitura literal do Alcorão e que querem fazer valer a sua religião pela força. Nem que seja preciso se destruir junto.

E há homens-bomba em todas as religiões, os que fazem leituras tão literais quanto estes outros.

Alguns estão na liderança destas. Uma minoria perigosíssima!

Há homens-bomba sem religião: o ser tipicamente ocidental é uma bomba.

O cara bombado é, literalmente, um homem-bomba.

Ele tomou as regras da sociedade do capital, da vitória a qualquer custo, da imagem do consquitador bem-sucedido, e a tatuou em seu próprio corpo.

E toma remédios e adota comportamentos que o fazem se auto-destruir.

O povo turco que vi me causou a impressão de pessoas naturais, que vivem as suas vidas sem estas influências ocidentais totalitárias.

E como são bonitos por natureza! Uma magreza, uma força e agilidade impressionantes. Impossível de não se notar.

Gente que anda, corre, vive normalmente. Não é uma sociedade do esforço menor, atrofiante, na qual apertar botões e fazer menos esforço corporal viraram um grande valor.

O Canal do Bósforo, corta a cidade de Istambul e divide a Europa da Ásia. O ocidente do oriente. Nem tão orientais? Nem tão ocidentais? Será que o segredo está aí mesmo nesses "nem tão"?

Essa mistura que deixa tudo mágico e com sabor?

Sem ser um todo, sem ser chato, sem ser um falatório incessante e robótico.

Sem ter estas regrinhas chatas que as tribos urbanas andam doutrinando por aí e que ainda têm o disfarce de modernidade.

O totalitário travestido de liberdade.

Isso também é terror.

E o pior, a gente nem vê.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sorte Quase Azar





Ha momentos de sorte

E de azar, claro

E ha momentos que parecem ser de azar

Que se tornam sorte

Subo a Torre de Galata

(ha nomes lindos)

De la a vista da cidade eh privilegiada

Ja que a torre era feita para proteger

Da chegada de invasores pelo canal do Bosforo

(ha nomes lindos)

Que liga o Mar de Marmara ao Mar Negro

(ha nomes lindos)

Comeca uma chuva fina

E aquela paisagem fica embassada

Pingos chatos e frios sobre a tarde que cai

A chuva vai

E o sol chega

E o que fica?

Um belo arco-iris

Que banha a tarde

E encanta os olhos

Que sai da linda cidade e cai la no Bosforo

(ha nomes lindos e parecem feitos para ilustrar perfeitamente esta cena)

Que sorte

Que veio de um quase azar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sobe

























E tem que ser bem cedo

Antes do sol nascer

E vao todos numa carreata

Ao encontro dos baloes

Vamos encher os baloes como em festas infantins

Vamos olhar com ansiedade

E uma ponta de medo

Vamos nos espremer

E vamos subir

Bem devagar

Sobre as montanhas da Cappadocia

Sobre casas construidas com escavacoes quase manuais

Cavernas que guardavam cristaos fugindo do poder romano

Que guardavam sentimentos e vontades que nao queriam ficar trancados

Lugares incriveis que seres humanos mais incriveis ainda construiram

E la vai o balao abencoando todo aquele espaco

E sobe um

Sobe outros

Sobem muitos

Inumeros, inumeras cores

Todos leves levando gente

Todos com brilhos nos olhos

Passar sobre a cidadela

E olha a moca que acabou de passar o cafe!

Sera que a moca da Cappadoccia passa cafe?

Deve ser bom ver la de baixo

Melhor ainda ver de cima

Voce tem medo?

Medo nenhum.

Eh tudo leve, bonito, onirico

Um voo, um salto, um brinde

Um inicio de dia para nenhum minuto restante botar defeito

Mesmo tendo certeza que o seu lugar

De verdade

Eh o chao.

domingo, 21 de setembro de 2008

A casa do Sultao Ahmed









Voce nao pode entrar

Por que nao?

Os mulcumanos estao em oracao

Mas eh isso mesmo que quero ver

Voce soh pode entrar daqui a uma hora

Vou me embora

Mas por aquela porta ha fieis entrando livremente

E eh so tirar os meus sapatos

Coloca=los em uma sacolinha plastica destas de supermercado

E pisar no tapete macio e bonito

Vermelho com alguns grafismos oticos

Por que as mulheres tem que ficar aqui atras?

Discriminadas dos homens

Mas eh so me assentar

E ver aquele bando de homens=ovelha

Que se abaixam e colocam suas testas no chao

Pedem e agradecem

E se levantam e se abaixam novamente

Vejo o espetaculo grandioso dos azulejos

Literalmente azuis

Azulejos Isnlk

Que chique!

Eh a mesquita de Sultanahmed

A Mesquita Azul

Magnifica e grandiosa

E lentamente o tempo passa

Tudo eh novo

Diferente e cada vez mais compreensivel

Bonito e leve de se ver

Por uma hora e alguns minutos

Eh a minha casa

Afinal nao sou sultao

Mas posso entrar sim

Eu sou Ahmed