quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sobre correntes e janelas

Li isso na entrevista de Almodóvar no Mais da Folha de SP e me tocou por um lado:

"Em Abraços Perdidos, a personagem de Penélope não se sente realizada vivendo num palácio, amarradas por correntes de ouro."


Continuei a ler e me tocou por outro:


"Sobre a redução no número de espectadores, acho que a pirataria tem muito a ver com isso. Vivemos uma fase de mudanças muito grandes em tudo o que diz respeito ao consumo de imagens, e só existe uma saída: estruturar esse consumo.
Não acredito que o cinema visto nas salas de cinema esteja morto, assim como não acredito que os jornais estejam mortos. Não vou a um café para ler o jornal no meu computador, e, como eu, há muitas pessoas.
Existem muitas coisas paradoxais, como o fato de que vejo os filmes muito melhor em meu televisor de plasma do que numa sala de cinema.
Isso me dá calafrios, porque aquilo de que gosto é justamente ir ao cinema, me sentar com pessoas que não conheço.
As novas tecnologias proporcionam uma qualidade extrema para assistir a filmes em casa, mas, ao mesmo tempo, essas mesmas tecnologias e a quantidade de janelas possíveis estão deseducando o gosto dos jovens e degradaram o produto cinematográfico, do mesmo modo que os iPods degradaram a música."

Aí parei porque achei que já estava completo, naquele espaço de tempo.

2 comentários:

Bel disse...

Não sei porque mas não vi esse teu texto embasado antes. Fiquei tocada também ... estou num projeto coletivo aqui em Curitiba que se propõe a construir coletivamente 3 filmes de curta-metragem a partir de um documentário. Somos alunos alunas -roteiristas, produtores, atores a atrizes trabalhando juntos e nossos filmes nasceram de uma investigação na realidade concreta.
Sei bem como é estar na contra-mão do fluxo ... sabemos bem como é produzir coisas nossas pra nós mesmos. Mas ainda há esperanças de alimentarmos nossa cultura primeira.
O paradoxo citado por Almodóvar é realidade e só podemos nos posicionarmos quando sabemos quem somos e pra onde queremos ir, né?
Adorei o texto ...
Beijo, Bel.

Rui disse...

Eu fico com várias dúvidas. Por um lado triste destas mídias de cinema, jornal, música, estarem passando por uma marola de incertezas. Mas por outro lado é bom saber que nos cafés estarão poucas-e-boas-companhias lendo jornal, na loja de CDs poucas-e-boas-companhias que deliciem em ver capas, letras, conteúdo e principalmente no cinema, uma sala pequena com filmes não-comerciais e poucas-e-boas-companhias que apreciem a sétima arte.
Vamos lá Almadovar não desista, não desanime, não "desesperance" sobre sua arte. faça mais e mais para poucas-e-boas-companhias. :)