segunda-feira, 21 de julho de 2008

C.A.M.

Revirei muitas coisas.

Primeiro a busca por documentos.

Saber se estava tudo certo, se os pés estavam no chão.

Se poderia fincar o pé na montanha

Para sair voando num balão.

Meu passaporte para o mundo estava vencido.

E era hora de renová-lo.

Engraçado precisar de documentos tão terra para se chegar à lua.

Certificado de Alistamento Militar?

Por onde andas?

Para que você serve, filho?

E espero que esta seja a sua úlitma via da minha vida.

Com as minhas intenções de ir tão longe,

Mais e mais pedidos de documentos foram se acumulando em minha caixa de e-mail.

Me pediram tudo, inclusive o quanto eu tinha na conta do banco.

Isso, para mim, era falta de educação.

Minhas raízes dizem isso.

E eles perguntam quanto eu ganho por mês sem o menor pudor.

Foi aí que comecei a revirar tudo.

Vi fotos e achei que eu realmente era muito magro.

Vi cartas e cartões.

Vi bilhetes.

Lembranças de vôos pelo mundo

às vezes interior

às vezes o oposto.

Vi coisas engraçadas

Coisas sérias

Notas de redação no colégio

Tive a coragem de ler dois textos.

Será qual nota este redator agora daria para aquele aprendiz?

Vi medalhas: uma vida no esporte deixada lá atrás.

Ah, que bom que teve.

Um amontoado de medalhas:

ouro, prata ou bronze?

Só me lembro de uma medalha de plástico nas minhas mãos.

E uma sobrinha a perguntar: o que é isso?

Eu sabia, mas nem respondi.

Só eu precisava saber.

Medalha de plástico...ai como foram boas.

Nunca gostei de guardá-las assim: fisicamente.

Sei a dor e a delícia de cada uma como se fosse agora.

Não encontrei meu Certificado de Alistamento Militar.

Estava em busca de outro algo.

Ele não é nada na minha vida

Talvez ele não tenha gostado de estar entre aquele amontoado de papéis

E foi viver em outro lugar onde não era peixe-fora-d´água.

Eram as marcas do não militar que estavam ali.

Do quase insubordinável.

Do estudante de nota boa interessado só no que gosta.

Do jogador que não entendia a parte física

Mas que entendia o jogo nas horas mais fatais.

Do amante, amado, apaixonado, com seus ídolos posando para a Playboy.

Eu estava ainda ali, guardado.

Havia me mudado.

Mas nada

Foi esquecido.

Só o Certificado de Alistamento Militar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Tem um monte de você nas minhas gavetas também. :-)

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ahmed Hamdan disse...

E nas minhas tem "Dois". Lembra? Está guardado.

Bel disse...

...tudo revirado? De dentro pra fora, do avesso ao direito,de cima pra baixo? Então...agora...ficou tudo no seu devido lugar! Que belo deve ser esse estado de plenitude, de consciência plena sobre o que se foi, o que se é, o que se quer ainda ser.
Um beijo,
Bel.

Unknown disse...

Revirar gavetas pode ser um exercício delicioso... e também pode dar em textos deliciosos, como esse!