domingo, 13 de julho de 2008

Dividindo as jóias

Ouvi em uma tarde de sábado que devemos dividir as nossas jóias com os outros. Ouvindo-me falar isso, Cláudia logo garimpou um livro guardado em suas memórias e que poderia elucidar o raciocínio. Foi aí que ela me entregou esta pérola. Acho que funcionou como uma pedra rara que capta a luz e a faz irradiar iluminando todos os cantos.


"Usar um brinco na orelha diz ao mundo que você gosta de ouvir o som de sua própria voz. Você quer ouvi-la primeiro, antes de qualquer outra. Botar um brinco é uma forma de narcisismo sedutor.
As pessoas são atraídas imeditamanete pelo narcisismo; é por isso que elas adoram crianças pequenas. O que todos nós desejamos é o amor sem obstáculos da criança, ou qualquer animalzinho, por si próprio. Katharine Hepburn fez uma carreira a partir do narcisismo sedutor, que consiste em dar, engenhosamente, a impressão de que você não liga a mínima para como as outras pessoas a vêem, o que importa é como você vê (ou presta atenção) a si própria. Tocando o brinco, naquela pose de auto-absorção, ela ilustra para que servem os brincos.
Orelhas pequenas são mais graciosas que as grandes e são sinais, achava Nietzsche, de mais agucada distinção. Orelhas grandes ouvem tudo. Eventualmente, ficam surdas para os sons mais sutis pelo rugido de todo o barulho do mundo.
A vibração da argola na orelha serve para ouvir você próprio falando. As palavras são ouvidas no momento mesmo em que são faladas. Elas viajam de dentro para fora e de fora para dentro. falando, você está sempre recebendo, de fora, uma impressão causada pelo que vem de dentro, quando as palavras voltam para você através do ouvido.
Ouvir a mim mesmo falar, silenciosamente, é um outro nome para pensar, diz Kant, como se tivéssemos um ouvido na nossa mente. Será que usamos jóias no ouvido da mente? Um brinco ornamental para a mente, isso é o que eu gostaria de criar, com minha arte de joalheiro para trançar e urdir fios como jóias falando ao ouvido. Mas, afinal, talvez seja apenas uma ilusão isso do pensamento estar na mente. Os nativos do Taiti, diz Kant, chamam o pensamento de falar na barriga. Não surpreende que tanta gente, hoje em dia, esteja botando argolas em seus umbigos."


Trecho do livro "As jóias falam", de Richard Klein.

5 comentários:

LP Camisasca disse...

brinco no cérebro... hmmm.. deve mesmo ser como o piercing, pois várias vezes dá vontade de arrancá-lo, calá-lo, fazê-lo parar de vibrar.

Braço, tio

Anônimo disse...

Alguém certa vez me escreveu que só se é feliz ao compartilhar com os outros, assim como, vejo agora, a jóia só será jóia se a dividirmos com os demais. Será por isso que dividimos nossas idéias por aqui? Será que nossos escritos são os brincos das nossas mentes, que nos permitem ouvir o "som" (ou o silêncio) de nossos pensamentos? Será que se tornam jóias ao serem divididos com os outros?

Ahmed Hamdan disse...

Acho que é isso mesmo, Juliana! Com a internet ficou mais fácil de dividir exatamente com que quer um pedacinho do que a gente pensa.

Anônimo disse...

Esta história de orelhas grandes serem menos graciosas concordo, mas que elas são surdas aos sons mais sutis, discordo de corpo e alma.

Compartilhar jóias, sempre.

Lis.

Anônimo disse...

Lis, se depender do seu ouvido, tb discordo! E obrigado por compartilhar as suas jóias comigo, há muito anos, melhor, sempre. Bjo, vem logo! Med