quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Contramão

Faço Pilates em um bairro nobre da minha cidade, talvez o que mais atraia este pensamento novo-rico que impera em muitas mentes. Nem vou explicar por que estou lá, mas, quando comecei há 5 anos, a sede era na região hospitalar e Pilates nem era moda. Estou há 2 dias das minhas férias. Em um lugar como este, tudo isso combina de uma forma incrível e explosiva. Bem próximo ao prédio, há uma lagoa (seca) onde as pessoas correm, ou melhor, como se diz nos comerciais, não andam: desfilam. Ali se vê muitos corpos sarados, muitos carros gigantes e antiecológicos, motos-máquinas, varandas e piscinas explodinho em seus apartamentos. Muito ego. Conversas falam disso, andares falam disso, sucos da época falam disso. Férias combinam com isso, que acaba ganhando um encanto especial. Um não querer questionar nada porque a cabeça já está explodindo e é hora de dar um tempo de tudo que possa desmanchar ou manchar qualquer felicidade. Saí daquele lugar com este gosto na boca. Liguei o som para ver tudo melhor ainda: a vida em clipe. Quando virei o carro para pegar a rodovia rumo à minha casa, uma incrível imagem veio de encontro a mim. Um homem completamente sujo, imundo, andando na contramão. Em uma rodovia, sem acostamento, sem lugar para andar. Não havia lugar para ele. Aos trapos, descalço. Contramim. Foi um segundo. O rosto dele não sai da minha memória. Parece que foi enviado para me alertar contra aquele mundo de fantasia e falsa felicidade que eu acabara de deixar. Um tapa de realidade e dúvida. Um aperto no coração. Um incrível medo de não entender as inúmeras razões de estar aqui. E de não saber de qual lado estou.



Beijos, me vou em férias. Será que mando notícias do lado de lá?


*E só um porém: já andei a pé neste mesmo lugar e até por isso senti o que foi citado. A sensação é de que os carros vão te engolir. E de que você não passa de um nada.

4 comentários:

Faz graça não... disse...

Assista ao Linha de Passe, do Walter Salles e depois leia a coluna do Calligaris.

Boa viagem.

Vc é muito especial!

Anônimo disse...

Felıpe, eu assıstı. So nao lı a coluna do Gallıgarıs. Vou ler. Obrıgado, valeu! Ahmed

Shobun disse...

Este seu texto me fez lembrar o conto "Perdoando Deus", da Clarice Lispector. O tal do "tapa de realidade". Muito legal o seu blog.

Anônimo disse...

Acho que ainda nao li este conto. Vou ler. Obrigado, andrea. venha sempre. (Dis) Ahmed