segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A linha que divide

Antes de ir à Turquia, pedi algumas dicas do lugar para as pessoas que conheço e confio.

Uma das dicas que recebi foi a de assistir ao filme "Atravessando a Ponte", que fala da música em Istambul, de como a cidade vive esta influência em seu dia-a-dia.

Um documentário muito bacana, que já estava muito querendo ver no cinema e que deixei passar. Acabei vendo em casa.

Outra boa referência foi a sorte de achar, no aeroporto, um livro chamado "Sobre o Islã", de Ali Kamel. Este livro, em vez de cair no clichê de falar das diferenças entre as religiões cristãs, judaicas e muçulmanas, fala sobre as suas linhas de intercessão, que inclusive são enormes, mais do que geralmente imaginamos.

Isso da diferença, de achar o mundo do outro estranho realmente não é a minha praia. Melhor: eu gosto muito dessa diferença. Acho bom sentir que existem novas formas de pensar, agir, viver, ser feliz e se realizar.

O estranho me é normal.

Os lenços na cabeça das moças não me estranha, ao contrário, me encantam.

O que me estranha é a obrigação, o autoritarismo ou totalitarismo. O não poder concluir e ser um pau mandado.

Se você acredita que deve usar lenço na cabeça ao andar pelas ruas, use os com as estampas mais lindas. Use os da melhor seda.

Agora, se você não acredita e é obrigado(a) a fazer isso. Aí é triste, sim!

E a relação do islã com o terrorismo? Quem são os homens-bomba?

São totalitários, que fazem uma leitura literal do Alcorão e que querem fazer valer a sua religião pela força. Nem que seja preciso se destruir junto.

E há homens-bomba em todas as religiões, os que fazem leituras tão literais quanto estes outros.

Alguns estão na liderança destas. Uma minoria perigosíssima!

Há homens-bomba sem religião: o ser tipicamente ocidental é uma bomba.

O cara bombado é, literalmente, um homem-bomba.

Ele tomou as regras da sociedade do capital, da vitória a qualquer custo, da imagem do consquitador bem-sucedido, e a tatuou em seu próprio corpo.

E toma remédios e adota comportamentos que o fazem se auto-destruir.

O povo turco que vi me causou a impressão de pessoas naturais, que vivem as suas vidas sem estas influências ocidentais totalitárias.

E como são bonitos por natureza! Uma magreza, uma força e agilidade impressionantes. Impossível de não se notar.

Gente que anda, corre, vive normalmente. Não é uma sociedade do esforço menor, atrofiante, na qual apertar botões e fazer menos esforço corporal viraram um grande valor.

O Canal do Bósforo, corta a cidade de Istambul e divide a Europa da Ásia. O ocidente do oriente. Nem tão orientais? Nem tão ocidentais? Será que o segredo está aí mesmo nesses "nem tão"?

Essa mistura que deixa tudo mágico e com sabor?

Sem ser um todo, sem ser chato, sem ser um falatório incessante e robótico.

Sem ter estas regrinhas chatas que as tribos urbanas andam doutrinando por aí e que ainda têm o disfarce de modernidade.

O totalitário travestido de liberdade.

Isso também é terror.

E o pior, a gente nem vê.

6 comentários:

Bel disse...

...como aprendi vendo o que descreves, o que tão bem escreves.
Gosto de vislumbrar o mundo assim: "nem tão".
Obrigada pela viagem compartilhada.
Bel.

Faz graça não... disse...

Fazer parte das suas viagens me torna alguém melhor.

Abs,

Felipe

Anônimo disse...

Quão gostosos de "ouvir" são estes elogios. Obrigado a vocês. Ahmed

Anônimo disse...

Bom ler tudo isso. E conhecer um pouco mais.

Unknown disse...

Adoro vir por aqui!

O mais aterrorizante é como estamos, todos nós, ocidentais e orientais, presos às nossas construções, às nossas narrativas, convicções, teorias... Não há muito como fugir, mas fico com a sensação de que uma saída (nem tão) possível é o humor... e a poesia, sempre... que é um pouco o que fazemos...

Questão de sobrevivência...

Beijos, querido poeta viajante, é uma delícia te acompanhar!

Ahmed Hamdan disse...

Rebecca, também amo o humor e a poesia. Amo viver muito além do sobreviver. Viver de verdade. Tão simples, mas difícil, principalmente através do olhar do outro. Amo viajar e ter pessoas viajando comigo. E agora vc é uma delas. Olha que vida boa essa? Beijo, Ahmed