segunda-feira, 7 de abril de 2008

Enfrentar causa tanto medo

Veio à minha cabeça e eu tentei afugentar, mas uma de nossas leitoras assíduas citou nos comments do post anterior a falta que sente do irmão perdido ao me ver falar da minha relação com o meu irmão Roger (leia Rogê, é em francês). Dentro dos momentos importantes em que ele estava comigo, tem um fato que esteve o tempo todo em minha cabeça enquanto escrevia e que não revelei ou que editei, como se fosse possível apagar da memória cenas fundamentais, que mudam os rumos da vida.

Nós dois estávamos no alpendre da casa branca da fazenda. Eu com 8 anos, ele com 11. No chão, brincando ou disputando um jogo que, anos depois descobri que tinha outro nome, mas dentro do nosso código se chamava pedrinha. Um funcionário da fazenda que cuidava de entregar o leite, de cuidar do gado e que vivia na casa da minha avó, se aproximou e soltou a seguinte pergunta:

Que horas é o enterro do Zé?

Eram 11 da manhã. Eu olhei no fundo dos olhos do meu parceiro de disputas olímpicas rurais e não precisei de nenhuma confirmação verbal.

Devo ter imaginado, em minha mente infantil, como aquela noite havia sido de terror para toda a minha família. Para os meus pais, meus irmãos mais “adultos” e pessoas mais próximas.

Meu irmão mais velho, de 24 anos, casado há recentíssimos 2 meses, havia morrido em um acidente de carro.

Em seguida, voltei o olhar para o meu parceiro de jogo e apenas perguntei: agora é a vez de quem?

A partir daquele momento minha família nunca mais seria a mesma.

Talvez nem eu.


Hoje foi domingo de chuva contínua, mas não muito forte. Fomos, eu e meu irmão, almoçar na casa dos meus pais. Na rodovia, vi uma cena que encantou o meu olhar. Debaixo da chuva, estava todo um time (deve ser de futebol, não importa), com uniforme branco e vermelho, correndo, brincando, em direção à cidade. E o que importa se estavam todos molhados? Importa muito: às vezes é a tempestade que faz a cena ficar inesquecível.

5 comentários:

Anônimo disse...

DESENCHANTEE!!!!!!!!!!!

PHCS disse...

É Ahmed, têm momentos que duram toda uma vida...queiramos ou não.
Outra coisa: tb pra mim, chuva é quase sempre sinônimo de poesia.
Abs!
Paulo.

Anônimo disse...

Med,
A realidade para quem sabe vive-lá,causa medo e para nós pensadores que temos autocrítica, O Medo fortalece e a gente aprende a viver com as perdas.

Abraço,
Alex.

Rebecca M. disse...

Inspirador...

Ahmed Hamdan disse...

Uma boa frase para estas coisas é uma que está no cd do Paulinho da Viola: "Saudade, tudo tem seu tempo e o seu já terminou". Isso funcionou muito para mim, quase uma ano após a morte do Figo, meu cão. Mas, no caso do meu irmão, tem um problema de não ter tido o luto na hora certa. E como não vivia dor, talvez pela idade,quando ocorreu o fato, também não consigo ver onde ela termina.