quinta-feira, 1 de maio de 2008

Conto real

Estava aqui pensando em escrever algo para o aniversário da minha irmã mais velha. Isso, com a morte do meu irmão, ela passou a cumprir este papel para mim, para toda a minha família, talvez. É a certa da casa. Casou-se nova, com moço de família, futuro promissor. Ele fala que chegou à família antes de mim, lembra-se do meu nascimento, importante para não abalar minha posição de caçula. Fato que eu adorava sair da minha rocinha-natal e ir passar uns dias de férias na capital, no ap da minha mana mais velha. E ali estava um mundo muito diferente para o menino da fazenda. Não podia isso, não podia aquilo. Med, chupa esta laranja, mas não pode arremessá-la em direção ao horizonte depois de desfrutá-la. Como assim? Vamos passear, tem que colocar tênis. Ai, que sofrido este mundo de regras, pensava eu com a minha filosofia de 8 anos. Bom, a bucha da laranja foi parar na vidraça da janela, o tênis eu não tinha lá: as opções eram descalço, havaianas ou sapato, que eu só tinha porque tive que ir a um casamento: o dela. Foi aí que Fafá, minha sobrinha,ganhou um presente, um bichinho, um passarinho japa, todo eletrônico e...muito diferente dos passarinhos que conhecia e amava vê-los voar livremente. A novidade virou uma bomba na minha mão. Uma bomba que fiz quebrar o bico e nem sabia o que fazer com aquilo. Não tive coragem de me entregar, então escondi o bichinho. E a busca em casa, comandada pela minha poderosa irmã, se iniciou, como se fosse de um corpo de uma pessoa desaparecida. Lembro-me que fugi em determinado momento. Andei em linha reta por uma rua, de modo que conseguiria voltar através de um fio de lã imaginário, adquirido da lenda do Minotauro. Cheguei a uma avenida larga e fiz questão de decorar seu nome lendo em um placa: CONTORNO. Sabia que esta seria parte importante da minha vida. Bom, ali estava o contorno da brincadeira, o limite da rebeldia, da insubordinação, da minha eterna luta contra as regras. Voltei em linha reta, decidido a me entregar. Entrei em casa (a dela também é minha, com outras leis) e me postei em frente à autoridade da minha irmã mais velha, olhei para cima, nos seus olhos e disse: Rose, aqui está o passarinho. Eu o estraguei e não tive coragem de falar. Aí chorei enquanto ela entregava o bicho desbicado para a filha que brincava com ele, alegremente, mesmo com os seus defeitos. E mesmo com defeitos, acho que eles aprenderam a me aceitar. Acho que estamos aprendendo a nos aceitar assim. E estamos muito mais felizes.

Rose, parabéns pelo níver e pelas nossas revoluções internas.

Um comentário:

Anônimo disse...

VOYAGE VOYAGE!!!!!!!!!!!