terça-feira, 25 de setembro de 2007

Topo Todas em Nikiti

As minhas passagens pelo Rio de Janeiro são freqüentes e, muitas vezes ou sempre, deliciosas. Mesmo com alguns horrores típicos da cidade. Vivo em Belo Horizonte, uma cidade entre as montanhas que tem um olho apontado para o passado, a mineiridade, o interior e outro voltado para a cultura, a tecnologia, o lado cosm opolita. Hoje já escrevi no meu trabalho (sou redator em uma empresa de propaganda e tenho o privilégio de exercer a escrita no meu labor) que este enigma é que nos deixa mais interessantes. Somos modernos ou jacus? As pessoas nunca sabem. Nós não sabemos. Ainda.
Mas os cariocas também são muito enigmáticos para mim. Parece que para muitos que os reparam mais de perto. Meu cunhado é carioca, típico. Adoro. Só a partir daí já não dá para generalizar nada. Confesso que há algum tempo sentia algum tipo de raiva, de preguiça ou de inveja mesmo. Encanto é o que nunca deixei de sentir pelo Rio, pelo mar, pelo seu povo. Confesso. E isso foi ficando cada vez mais real, verdadeiro e natural em mim.
Foi em um daqueles feriados que acertam a quinta, que deixam a sexta um dia impossível de trabalhar e que estava no Rio que, por uma feliz coincidência, tinha show da Marina no Tetro Municipal. De Niterói. Pegar a balsa, não saber se tem como voltar e outros nunca me meteram medo. Eu vou e depois a coisa se resolve. Sempre. E fui.
Tinha comprado um ingresso por internet numa ponta extrema da primeira fila, mas era primeira fila. Comecei a ver o show que acabava de ser nomeado "Topo Todas Tour" por um outro fã internauta chamado Alessandro (que não conheço). A proposta era ser um show mais simples, com 3 ou 4 músicos no palco para viabilizar a turnê dos Primórdios que havia se restringido às cidades "ponte-aérea", "Via Dutra', "do eixo", vocês sabem. Comecei a assistir ao show com cara de paisagem. "Já vi o bom, este não é nada". Atrás de mim havia um adolescente (18/20/22 anos é adolescente!) que cantava muito, inclusive fazendo o celular de microfone. Imediatamente me coloquei no lugar dele. Será que sou assim? Que pago este mico? Ao meu lado um casal da Melhor Idade. Ela empolgadíssima, apaixonada. Ele (quase) dormindo. Meu olhar blazé deve ter resistido até a quarta ou quinta música. E quem pagou o pato foi o velhusco! Com a amada de um lado e Ahmed (eu, tá?) do outro, o sono do bicho foi ficando cada vez mais impossível. Alugamos o ouvido dele por um longo e interminável tempo (para ele). As mínimas cadeiras do Tetro Municipal (de Niterói) ficaram ainda mais mínimas para ele. Coitado de quem vai a um show que não tem afinidade nenhuma ao lado de uma pessoa que ama o artista. Já fiz isso, não faço mais. Não me esqueço dela cantando no ouvido dele e segurando a sua mão: "Não faça assim, não faça nada por mim, não vá pensando que eu sou seu." Lindo, romântico.. para ela(e para mim, não para ele). Também não me esqueço do meu descontrole, apenas falando, melhor, berrando para a Marina na boca do palco: "VOCÊ (MARINA) ME ABRE OS SEUS BRAÇOS E A GENTE FAZ UM PAÍS!"Pronto, paguei o mico. Foda-se. Mas aí uma voz veio em direção a mim e me perguntou: "Você que é o Améd, não é?"

7 comentários:

PHCS disse...

Belíssima iniciativa, Ahmed! Parabéns!

Vou adorar ler os seus belos textos. Além de muito bem escritos, ainda falam de uma das maiores paixões da minha vida!
E ainda têm a coisa da mineiridade e carioquice que me rondam!

Que este blog tenha longa vida!
Abraço pra vc!

Unknown disse...

Ahmed, bacana ter mais um texto/relato pra ler sobre Marina...
No final o que vemos são tantos sentimentos, mas todos muito merecidos por ela...
Uma curiosidade: vc estava na fila pra falar com a Marina no teatro de Nit ao lado do Gustavo? dps de mim?
Beijo!!

Unknown disse...

eu conhe�o essa hist�ria e conhe�o esse amor todo a�!!! arrasa nos textos!!!

Ahmed Hamdan disse...

Paulo, vc superfaz parte desta história. Continue lendo, heim!Obrigado. Claúdia, era eu mesmo! Vc tava lá!!!Que bom.E Andrezza, escrito é diferente, não? Tô apostando que sim. Vamos em frente.

CADO - MAPA DOS MEUS DIAS disse...

Adorei teus textos e identifiquei-me com uma série de sensações que descreves neles. muito bem humorado, muito leve e inteiro. bacana tua idéia e muito legal ter compartilhado conosco. abração... vou passar aqui sempre... e Porto Alegre é algo assim, por um lado perdida em algum lugar do passado, por outra... jurando-se cosmopolita e contemporânea. Sucesso.

PHCS disse...

Ah... mais uma coisa, Ahmed: morri de rir com essa coisa patética de uma pessoa com o maior tédio do mundo ao lado de outra que vibra com o show. Isso me soou extremamente familiar. Já vi essa cena acontecer várias vezes em todos os shows do Ney Matogrosso em que já fui. E claro: as senhoras quase têm um orgasmo vendo-o se requebrar todo, enquanto os supostos maridos ou estão dormindo, ou de braços cruzados e cara amarradíssima ou, quem sabe, tentando esconder alguma coisa...

lis disse...

Med,que muito suas palavras escritas.
Marina faz rima noseu coração, meu irmão.
Coisa boa. Adorei.
Beijos, daquela que viu Marina contigo no Canecão.