sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Morte do "Credelevê"

Meu sobrinho Luís Paulo, de 27 anos, morador de Maputo, Moçambique, marketeiro não só na profissão escreveu este texto e enviou para o grupo de e-mails da minha família. Eu gostei demais e resolvi postar aqui. Ele escreve o blog que está aí ao lado, sobre sua experiência na África. É o http://txunabeibe.blogspot.com

O texto:

Gente, já pensaram que, com as novas regras ortográficas do português o crê-dê-lê-vê simplesmente morreu? Quantos neurônios já queimamos, com caneta na mao, com o "v" e o "e" já no papel, repetindo na nossa cabeça essa boa dica, para completar com sucesso o "êm", e concluir com um sorrisinho malandro de canto de boca agradecendo a pessoa que te passou esse infalível truque. Agora já nao. Acabou-se!

E o péla-saco? Virou um pelassaco? O guarda-roupa é um guardarroupa? E se eu for ao Brasil já nao pegarei um vôo, mas sim um voo! Que língua é esta, meu deus? E o pára-raios? Já virou para-raios ou pararraios?! Agora sim, mae, aquela pergunta que fiz aos 6 anos de idade faz sentido! É para os raios ou contra os raios? Responda-me bem CPLP. Hein?

Daqui a pouco Tio Ache já vai começar a fazer outdoors pela cidade escrevendo que este ou aquele hipermercado é superbarato! O jornal vai dar manchete que o candidato francês à presidência é um antissemita e o americano tem um passado heroico!

A minha frustraçao vem por conta das mudanças desde que saímos da escolinha - que é nossa base cultural, naturalmente. Primeiro é o sistema solar, que deixa de ter nove planetas para ter somente 8. E as nossas piadinhas de criança, como ficam? "Vou te mandar lá pra Plutao", "aah! Fala que eu to em PLutao!!". Agora o sinonimo de longe e isolado qual vai ser? Aquele oitavo planeta cujo nome nem me lembro? Ou nos contentaremos com a Sibéria?

Claro que fico contente com o fato (fato! Nao fa"c"to, Sr. Tuga) de as novas regras trazerem facilidades para a comunicaçao interpessoal lusobrasileira (¿¿¿Cadê o hífen???) e com a reduçao dos problemas que terei com a escrita aqui em Moçambique, relaxando meu policiamento quanto às "acçoes da directoria nos projectos de 2008".

No entanto, ainda me incomoda muito ter um grupo de pessoas dizendo que o que a MINHA MAE me ensinou de repente virou balela, passado, museu, português arcaico! Mae, continuamos juntos. Vou repetir o seu crê-dê-lê-vê até nossos últimos dias. Essa e outras tantas regras passadas a base de repetiçoes infinitas e beliscoes contundentes formam o elo que nos manterá sempre unidos. Deixa a CPLP pra lá!

Beijos a todos.

PS: O til continua firme e forte na Lingua Portuguesa, só nao existe no meu teclado, este, espanhol...

2 comentários:

LP Camisasca disse...

hahaha! que bom, tio... corrigiste o "til". Agora temos que substituir o "hipermercado" por alguma palavra que realmente vai mudar. ;o)
braçao!
Lu

Anônimo disse...

Pra você vêr. É a roda da vida. Tudo muda e sempre mudará. E para os que participaram do passado fica a doce nostalgia das histórias do "Crê-dê-lê-vê", do "pêlo", da "pharmácia".
E vou te contar, no futuro será pior, prepare-se, será: "vc tbm q ñ acredita, naum acretita tbm."

Muito bom o texto.

:)